sexta-feira, 30 de março de 2012

Um trecho sempre difícil

Pela manhã, enquanto Júlio e Almir faziam o passeio aos geiseres del Tatio, comprei corda para rebocar a minha moto em caso de necessidade, um pincel, óleo diesel e abasteci a moto. O pincel e o diesel são para limpar as correntes, que estavam impregnadas de óleo com pó de pedra das estradas de rípio.

Limpei e lubrifiquei as correntes das 3 motos e saí para caminhar pela cidade e aproveitei para pegar a roupa que houvera mandado lavar.

Eles chegaram do passeio às 12:30 h, almoçamos correndo para desocupar o quarto antes das 13:00h e eu fui para a aduana para partir antes, pois logo eles me alcançariam na estrada. Nossa meta era chegar a Susques para pernoitar por lá.

Na saída de San Pedro para o Paso de Jama há uma subida de 50 km bem acentuada, com a estrada passando ao lado do vulcão Licancabur. Consegui andar por 36 km, quando a moto não conseguiu mais subir. Os próximos 4 km foram percorridos em 1 hora, até que a moto parou e não conseguia nem arrancar na ladeira. Esperei por 45 min a mais de 4.500 msnm, com vento e muito frio, mas Almir e Júlio não chegavam. Consegui fazer a moto funcionar e andei mais 9 km, e ela parou novamente, sem força para continuar. Passados mais ums 20 minutos, eles chegaram.

                                                                                   Vulcão Licancabur, 5990 msnm, ao lado da estrada

Almir houvera perdido sua jaqueta com R$ 1.500,00, mais documentos e cartões de crédito. Eles tiveram que registrar a ocorrência junto aos Carabineros de Chile, para que pudessem deixar o país sem os documentos da moto, esta foi a razão do atraso.

Amarramos minha moto com a corda na moto do Almir e ele me rebocou ladeira acima, uma situação perigosa, devido aos trancos. Qualquer bobeada resultaria em um tombo. Após a grande subida, tentei andar com a moto sem corda, mas ela não passava de 40 km/h em 3ª marcha, então Almir passou a empurrá-la com o pé. Fui ajudando com o que o motor da Falcon conseguia fazer, mas ele empurrou por 110 km, até o Paso de Jama. As belas e radicais paisagens não puderam ser curtidas como deveriam.

Preparando para rebocar a Falcon
 


No Paso de Jama, contamos com a boa vontade dos policiais federais argentinos, que se dispuseram a nos ajudar, para que o Almir pudesse ingressar com a moto sem documentos na Argentina. A sorte foi que entramos por lá alguns dias atrás, então eles rastrearam o número do chassis da moto e autorizaram seu ingresso em solo argentino. Imagine se fosse na Bolívia...

Já eram 19:10 h quando saí do Paso


                                          Acidente com "cegonha" e 9 carros, todos incendiados na puna

de Jama na frente dos outros dois, para ganhar tempo. Já estava escurecendo e ainda estávamos a 120 km de Susques. Eles me alcançaram 40 km adiante, e o Almir continuou empurrando a Falcon com o pé. Passamos pelo Salar de Olaroz e por diversas lagunas altiplânicas, que mais pareciam um mar de águas verdes. Escureceu, a temperatura caiu mais e começou a chover, mas não paramos, continuamos em frente até chegar ao complexo Pastos Chicos, em Susques, às 20:40 h. Andamos mais 1 hora à noite sob chuva, com o Almir empurrando minha moto a até 100 km/h. Estávamos exastos, tanto pela viagem em si, como também pela tensão de andar "rebocado" por cerca de 200 km e pela perda da jaqueta e dos documentos do Almir. O trecho é sinuoso em grandes altitudes. Jantamos, conseguimos um quarto para três e fomos dormir.
                                           Trecho San Pedro - Susques, a mais de 4500 msnm

A travessia da cordilheira dos Andes entre Jujuy e San Pedro nunca foi fácil, devido às altitudes envolvidas, o que se reflete em problemas nas motos carburadas (caso da Falcon), falta de oxigênio para nós e muito frio. Mas vencemos mais esta etapa!

San Pedro de Atacama II

Enquanto espero meus companheiros de viagem voltarem de um passeio aos geiseres del Tatio, dei mais uma volta por esta cidade apaixonante que atrai visitantes de todo o mundo, principalmente europeus, com predominância de nórdicos e alemães. San Pedro na verdade é um óasis no árido deserto do Atacama, um local rústico e simples, de acesso difícil, mas que apaixona quem a conhece.
Aproveito para enviar algumas fotos do local.




quinta-feira, 29 de março de 2012

San Pedro de Atacama

O dia de hoje foi um semi pit stop para descansarmos o corpo do ritmo intenso dos últimos dias.




Pela manhã vagamos por San Pedro de Atacama, uma cidade diferente e charmosa. Entramos em lojas, tiramos fotos e curtimos o astral diferente do local, abençoado pelo imponente vulcão Licancabur, com seu cume eternamente nevado e sua altura de 5.950 m.



À tarde fomos fazer um passeio, que já fiz duas vezes anteriormente, mas que sempre me agrada: visitar o vale da morte e o vale da lua. Andamos em locais que se assemelham a paisagens lunares, assim como também circulamos em regiões em que o solo é puro sal, que brota das entranhas da terra. Não chega a ser um salar, pois o mecanismo de formação é outro, mas é uma coisa diferente para nós. Culminando o passeio, assistimos ao por do sol no vale da lua, sobre uma duna gigante, um espetáculo sempre bonito, com o sol se pondo de um lado e uma imensa sombra projetando-se sobre o vulcão Licancabur. O céu vai mudando de cor até o total desaparecimento da luz solar, quando a lua assume o espetáculo.

Estamos fazendo uma pequena modificação em nossos planos: para ganhar tempo de viagem e evitar transtornos maiores como viajar à noite e frio intenso, devemos partir amanhã após o almoço, com previsão de pernoite em Susques, povoado situado a 3.850 msnm. a meio caminho entre San Pedro de Atacama e San Salvador de Jujuy. Do dia seguinte pretendemos chegar a Salta.

Vencendo as cordilheiras - um dia intenso

28 de março de 2012

Saimos da pousada em Tilcara e seguimos até Purmamarca, pequeno povoado de origem indígena muito simples, bonito e agradável, pois Júlio e Almir queriam comprar meias de lã, e eu precsava sacar mais dinheiro em moeda argentina.

Eu saí para a subir a montanha na frente deles, devido às limitações da Falcon frente à BMW GS 800 e à V-Strom 1000. Subi com alguma dificuldade e muita paciência a imponente Cuesta de Lipán, um zig-zag pela montanha, atingindo a altitude de 4.180 msnm em seu ponto mais alto. A moto ficou muito fraca e falhando, mas fui subindo devagar, curtindo cada curva e cada nova montanha que aparecia pela frente. Nenhuma foto seria capaz de mostrar a imponência da montanha riscada pela estrada serpenteante, e nenhuma descrição seria justa com a grandeza e beleza do local. É a 4ª vez que passo por aqui, e sempre me emociono e me sinto pequeno diante de tamanha grandiosidade da natureza.




                                          Fronteira Argentina-Chile a 4.350 msnm

Desci a montanha pelo outro lado e cheguei a Salinas Grandes, um imenso salar rasgado pela ruta 52. Fiquei esperando pelos companheiros de viagem em Salinas Grandes, no meio do salar, durante 45 min, o que me deixou mais bronzeado do que um dia inteiro na praia. O salar fica a cerca de 3.400 m de altitude.
                                            Salar Salinas Grandes

Quando eles chegaram, parti na frente, sempre devido às limitações da minha moto. Segui no ritmo que conseguia andar, e em alguns trechos chegava até os 80 km/h. Realmente, uma moto carburada é totalmente contra-indicada para grandes altitudes.

Encontramo-nos em Susques, a 160 km de Purmamarca, para almoçar, às 13:40 h. Abastecemos as motos, pois ainda havia um longo caminho pela frente até nosso destino, San Pedro de Atacama, no Chile. Ficamos sabendo que havia sido aberto um posto de gasolina em Paso de Jama, na fronteira Argentina-Chile, o que eliminou a necessidade de levar galões de gasolina como reserva.

Nossa próxima parada foi justamente no Paso de Jama, na fronteira, depois de passar por paisagens incríveis, bandos de Lhamas e alpacas e um deserto de altitude frio, vazio e belo. A estrada corre a uma altitude de 3.650 m entre cumes de montanhas, algumas com neve em seu topo.

Após os trâmites aduaneiros em Jama (saída da Argentina), a estrada chega a 4.350 m de altitde, ingressa no Chile e continua nessa incrível altitude. Mais lagunas altiplânicas e paisagens de tirar o fôlego, com temperatura de 6 ºC. Minha moto começou a piorar, e já eram mais de 17:00 h. Júlio e Almir passaram por mim e combinamos nos encontrar na aduana de San Pedro de Atacama, 160 km adiante, os mais difíceis da travessia, devido à altitude. A Falcon já não conseguia mais ter força para andar em 5ª marcha, fui em 4ª a 60 km/h. Em qualquer subida, tinha que reduzir para 3ª ou 2ª, caindo a velocidade para menos de 40 km/h.

                                         Laguna altiplanica a mais de 4.300 msnm

Em um trecho onde há uma subida mais forte, a temperatura já estava em 3,5 ºC e a moto não conseguia subir, afogava, parava e não tinha forças sequer para arrancar em 1ª, mesmo queimando a embreagem. Cheguei a saltar e empurrar a moto ladeira acima com a pequena ajuda do motor, para ver se conseguia ao menos chegar ao topo, mas o frio intenso e a falta de oxigênio mostraram que eu não conseguiria. Estava a cerca de 4.800 m de altitude, próximo ao ponto mais alto da estrada, estava escurecendo e ainda faltavam 110 km para San Pedro. Fui subindo com a moto aos trancos em 1ª, a menos de 5 km/h, torcendo para a moto aguentar aquela exigência, pois eu dependia dela para sair dali. Fui subindo naquele sufoco por mais de 40 min e não  andei mais que 3 km.

Consegui, a duras penas, chegar ao topo, Para piorar, estava gripado, totalmente congestionado, respirando pela boca e com pouco oxigênio, tanto para mim, como para a moto.

Deus tem estado do meu lado. Quando vi as coisas ficarem feias de verdade, Almir e Júlio apareceram de volta com suas motos. Eles estavam fotografando à beira da estrada, e um caminhoneiro que viu minha dificuldade acenou-lhes que minha moto estava mal. Já estava no plano, mas a quase 5.000 msnm, minha moto não passava de 30 km/h, devido à falta de oxigênio para misturar-se com a gasolina e queimar. Almir começou a empurrar-me com o pé até 80 km/h, durante mais de 60 km. Para complicar um pouco, a temperatura caiu para 1,5ºC negativos (-1,5ºC) e começou a nevar forte. Eu com o nariz entupido e viseira embaçada, nós três tremendo de frio, Almir me empurrando com o pé e a neve caindo forte... Seria belo, se não fosse a situação!

Andamos assim por 1 hora, contornamos o vulcão Licancabur com temperatura negativa até que começou a imensa descida de 50 km em direção a San Pedro. Almir parou de empurrar, minha moto desceu sozinha e a temperatura foi aumentando à medida que descíamos. Parou de nevar, e conseguimos chegar, depauperados, à aduana de San Pedro de Atacama com noite alta, onde fizemos todos os trâmites de ingresso no Chile.

Não tínhamos moeda chilena. Passamos em um caixa automático, sacamos dinheiro e fomos procurar hotel. Encontramos muitos motoqueiros de vários locais, muitos haviam tido problemas para entrar na Bolívia e retornaram, como nós.

Jantamos às 23:30 h e fomos dormir totalmente exaustos e esgotados, porém felizes. Afinal, não era isso que queríamos?

O dia de hoje foi incrível em termos de paisagens, que são únicas e raras. Só quem já viu e passou por aqui sabe disso, é impossível descrever, inclusive as cores, o cheiro e até o silêncio dos locais ermos e altos. E a neve? Que coisa linda, pena que veio em uma hora em que não deu para curti-la como merecia.



                                           Vulcão Licancabur ao fundo, na estrada à noite  -1,5ºC!

Nós três temos a mesma opinião, de que tudo que passamos valeu, e muito! E devo aos meus companheiros de viagem, Júlio e Almir, o fato de estar aqui escrevendo, pois se não voltassem para me socorrer, não sei como sairia dali, com a moto sem passar dos 20 km/h, a uma temperatura de -1,5ºC, à noite e com a neve caindo. Realmente, seria muito mais difícil do que foi.

terça-feira, 27 de março de 2012

Mudança de planos


Ontem à noite fiz contato com Almir e Júlio, eles estavam em um hotel em La Quiaca.

Hoje pela manhã, após fechar a conta no hotel onde estava, fui para o hotel deles para sairmos juntos com destino à Bolívia. O Júlio houvera levado 2 tombos no caminho alternativo que fizeram a La Quiaca, a moto sofreu pequenos danos e ele estava com dor no joelho e no pescoço.

Tentamos conseguir uma loja de autopeças e uma oficina de moto em La Quiaca, mas não existiam. Demos um jeito no espelho da moto (BMW) e o Júlio comprou anti-inflamatório em uma farmácia, para aliviar a dor.



Abastecemos as motos, lubrificamos as correntes e seguimos para o posto de fronteira. Perdemos algum tempo devido à morosidade e à quantidade de pessoas, mas demos saída da Argentina, baixamos as motos e ingressamos na Bolívia. Quando fomos entrar com as motos, alegaram qe o seguro carta verde não valia na Bolívia. Tentamos saber como fazer o seguro exigido pela polícia boliviana e informaram que não existe seguradora na Bolívia que faça o tal seguro que nos exigiam. Criaram cada vez mais difculdades, para poder vender as facilidades. O Júlio ligou para o seu corretor, em Londrina, que iria resolver o problema enviando um fax para a aduana boliviana.

Perdemos de 3 a 4 horas na fronteira, com tudo resolvido, porém não podíamos ingressar na Bolívia por conta do tal seguro que não existia e ninguém sabia informar como era ou quem o fazia.

Resolvemos então abortar o ingresso na Bolívia. Demos saída da Bolívia, registramos novamente as motos para ingresso na Argentina, demos entrada na Argentina novamente em nossos passaportes e voltamos para La Quiaca, onde almoçamos no hotel de Turismo, onde Júlio e Almir estiveram hospedados. Achamos que esta foi a melhor decisão, amanhã iremos para San Pedro de Atacama, no Chile. Adeus, Bolívia, quem quiser que vá! Nossos passaportes se encheram de carimbos de entrada e saída dos 2  países.

Descemos a Quebrada de Humahuaca pela ruta 9, o mesmo caminho que fiz na ida. Pegamos uma forte chuva de gelo, justamente no ponto mais alto (Abra Pamapa, 3980 msnm), e a temperatura baixou para 2 ºC, fez um frio terrível, e as pedras de gelo que caíam machucaram a minha mão que ficou totalmente vermelha e dolorida. Esfriou tanto que parei de sentir as mãos, tive que parar debaixo da chuva e do gelo para colocar luvas mais grossas. Ainda assim, o cenário era fantástico, eles gostaram muito de todo o visual do caminho.

Entramos para dormir em Tilcara, bela cidadezinha com casas de adobe encravada aos pés das montanhas, no coração da Quebrada. Todos adoramos a cidade, e conseguimos uma pousada hiperbacana para pernoitar.

À noite, eu e Almir ainda saímos no frio para ir até o centro e comprar algumas provisões para amanhã, quando deveremos cruzar o Paso de Jama em direção ao Chile.

A temperatura em Tilcara deve estar em torno dos 8 ºC.

Com tantos acontecimentos, notícias ruins da B olíviae com as dificuldades colocadas, nós 3 gostamos da decisão de mudar o rumo da viagem. Para mim, tudo é festa, mas também gostel! Tudo levava a isto.

Quebrada de Humahuaca

26 de março de 2012 - segunda feira


Acordei um pouco antes da 6:00 h, juntamente com Almir e Júlio, que queriam partir logo cedo. Tomamos café juntos no hotel, despedimo-nos e eles seguiram viagem. Fui a pé até a região onde se vendem peças para motos. Chegando próximo, perguntei a um motoqueiro onde encontraria uma corrente de Falcon, e ele levou-me na garupa até a porta da loja. A corrente igual à minha custava uma fortuna, comprei uma sem retentor de 2ª linha. Descobri onde havia uma oficina, retornei a pé ao hotel (um pouco longe), peguei a moto e levei na oficina. O mecânico avaliou que seria melhor comprar uma emenda de corrente e substituir o elo que tranformamos em emenda no meio da ruta 16. Ele simplesmente trocou o elo pela emenda nova e pronto! A corrente que comprei vou levar como reserva. Comprei também óleo e o mecânico trocou pra mim o óleo e o filtro. Tenho dado sorte, o cara era um mecânico cuidadoso e caprichoso, além de competente.

Com a moto pronta, voltei ao hotel, coloquei a bagagem, saquei dinheiro no caixa eletrônico do shopping vizinho ao hotel e parti. Imediatamente começou a chover, tive que colocar a incômoda roupa de chuva. Saí às 12:00 h de Jujuy, sem almoçar.

Não abasteci em Jujuy, e o posto onde eu contava abastecer na estrada, em Volcán, estava fechado. Eu tinha pouca gasolina no tanque. A chuva parou e fui até Purmamarca, uma pequena cidade indígena toda construida em adobe, inclusive sua pequena e graciosa igreja. Andei a pé pelas ruas da cidade, comi um hamburguer como almoço e voltei à estrada, havia muito que ver e eu precisava abastecer, estava quase sem gasolina. Lentamente comecei a subir a Quebrada de Humahuaca, um vale com o rio Grande no meio, com 1 km de largura e 300 km de comprimento, acaba em La Quiaca, fronteira com a Bolívia. A Quebrada sobe de 1200 msnm (Jujuy) até 3.490 msnm (La Quaca), em cerca de 300 km de estrada. A moto estava fraca e falhava muito, não sei se devido a algum entupimento no carburador (já chegou em Jujuy falhando) ou se por causa da altitude. O fato é que não passava de 80 km/h e estava muito fraca. Com a gasolina quase acabando, abasteci em Tilcara, no único posto existente depois de Jujuy.


Continuei subindo a Quebrada, que é um espetáculo da natureza: montanhas, rios, cores, vegetação, tudo tem uma beleza selvagem e exótica. Não dá para descrever com palavras, e as fotos não serão justas com a grandiosidade e abrangência da paisagem. Os pequenos povoados foram passando, e eu subindo vagarosamente, porém feliz por estar naquele local apreciando e aproveitando toda aquela exuberância. A moto lenta e fraca, mas isso não era importnte, eu não tinha mais pressa.

Havia algumas motos fazendo o mesmo trajeto que eu na Quebrada. Em Tilcara, durante o abastecmento, conheci e conversei com um casal da Malásia em uma moto com placa da Colômbia. Também iam para a Bolívia. Fiquei curioso (mas não perguntei!) para saber como chegaram até aqui e como obtiveram uma moto da Colômbia!

Em Abra Pampa passei pelo ponto mais alto, 3.890 msnm. Eu não senti a falta de oxigênio, quem sentiu foi a moto. A estrada nas grandes altitudes é muito bonita, corre junto ao topo das montanhas.

Às 18:30 h, bastante cansado, cheguei em La Quiaca, meu destino final na Argentina. A cidade faz fronteira com a Bolívia, é fria e fica a 3.490 msnm. Não estava disposto a andar muito para conseguir um hotel bom. Hospedei-me no Hostal Munay, conseguindo um desconto e pagando 130 pesos pelo pernoite. Acho que vale.

Tomei um banho e fui procurar uma internet para passar um e-mail para o Júlio, para que quando eles cheguem a La Quiaca saibam que estou hospedado aqui, e, quem sabe, possamos seguir viagem juntos, apesar da inferioridade da minha moto em relação à deles.

Todos os povoados da Quebrada de Humahuaca são como La Quiaca: pequenos e com casas simples. Já falei antes, gosto de andar por lugares assim e conviver e conversar com o povo. Sempre aprendemos alguma coisa com as pessoas simples.

Amanhã pela manhã vou verificar como é a fronteira e os documentos exigidos para ingressar com a moto na Bolívia. Hoje estou muito cansado, vou comer algo e dormir!

domingo, 25 de março de 2012

O hotel em Taco Pozo era tão vagabundo que nem café da manhã tinha, assim, às 8:00 h eu estava entrando na ruta 16 para seguir em velocidade reduzida (80 km/h) a fim de poupar a corrente, que estava com o elo improvisado. Andei bem, em jejum, por 80 km, até El Quebrachal, onde tomei café em um quiosque na beira da estrada.
Segui no meu ritmo lento até o final da ruta 16, onde tomei o rumo de Salta pela excelente ruta 9. Encontrei novamente com Júlio e Almir fotografando à beira da estrada. Parei, conversamos e fomos seguindo praticamente juntos: eles com maior velocidade me esperavam nos próximos postos de gasolina. Almoçamos todos em Gral. Guemes e decidimos ir diretamente para San Salvador de Jujuy, ao invés de Salta.Em Jujuy eu poderia reparar a corrente da Falcon.
 Jantamos juntos no shopping, porém antes tomamos café em uma confeitaria na praça. Eu já conhecia a cidade devido a viagens anteriores, mas continua organizada e agradável, apesar de não ter grandes atrativos especiais.


Apesar da baixa velocidade em que andei, o dia hoje foi bastante tranqüilo, principalmente por ser domingo, quando as estradas estão vazias e todo o comércio da cidade está fechado. Amanhã vou procurar uma oficina para resolver o caso da corrente da moto. Gostaria de poder seguir com Júlio e Almir ao menos até Purmamarca, mas preciso consertar a moto antes.

sábado, 24 de março de 2012

Um pequeno contratempo... no Chaco



Após fechar a conta no hotel Colon em Resistência e amarrar a bagagem na  moto, parei para abastecer, verificar o nível do óleo e lubrificar a corrente. Cruzei a cidade desde o centro e às 9:00 h entrei na ruta 16, que cruza a província do Chaco e leva a Salta.

Como sempre, a estrada estava vazia, mas chega a dar aflição saber que há 1.000 km pela frente a serem percorridos. Andei bem, mantive os 110 km/h e fui pacientemente comendo os quilômetros. A moto faz 15 km/l, é sempre assim com a gasolina argentina, e o arrasto devido aos alforjes é grande.

Parei para almoçar em Pampa del Infierno, a uns 250 km de Resistência, e retornei à estrada de imediato, para conseguir rodar mais. Havia percorrido 25 km quando de repente a moto perdeu força e o motor disparou. Parei no acostamento e constatei a tragédia: a moto estava sem a corrente da transmissão, ou seja, a corrente se partiu, caiu na estrada e ficou para trás. Meu primeiro pensamento foi "estou fudido, o que vou fazer neste local sem qualquer recurso, longe de tudo, sem cidades, sem movimento e com um calor de derreter os miolos?"  Eram exatamente 13:00 h e o sol estava a pino. A estrada é deserta, não há cidades ou povoados em um raio de 25 km e a minha moto não é conhecida na Argentina.



A primeira providência foi encontrar a corrente. Voltei 500 m a pé e a achei, havia sido literalmente cortada no elo de emenda, não me perguntem como. A ajuda e a salvação chegaram na forma de um senhor humilde, sem dentes, que vinha em uma bicicleta motorizada. Ele parou e se propôs a me ajudar. Ele trazia algumas ferramentas básicas e tinha idéia de como resolver o problema ao menos para eu sair daquele lugar. Eu mesmo não acreditava que fosse dar certo, mas a obstinação do velho era tanta que fiquei contagiado. Em sua simplicidade e imensa sabedoria ele coordenou todas as ações que tivemos que tomar para eu poder sair dali. Até um martelo e um punção obtivemos em uma estância próxima, a única em um raio de 50 km. Para encurtar a história, removemos um elo da corrente e improvisamos uma emenda. O Juan (era esse seu nome) me salvou com tanto interesse em ajudar e ao mesmo tempo de forma tão desinteressada que me comoveu. Simples, sábio e capaz! Um enviado dos céus!


Saí devagar com medo do elo provisório romper-se novamente, e então não haveria mais jeito. Percorri os próximos 38 km a 40 km/h, levei 1:10 h.

Cheguei ao povoado de Los Frentones e procurei um mecânico de motos. O rapaz me atendeu muito bem, checou toda a corrente à procura de mais danos, mas ela estava íntegra, a menos do reparo realizado. Elogiou o conserto feito, e disse que essa corrente é muito difícil achar na Argentina, somente em Salta eu a encontraria, mas seria possível seguir viagem em velocidade menor que os 110 km/h que eu vinha imprimindo. Não me cobrou nada e ainda conseguiu água, sabão e uma toalha limpa para eu lavar as mãos, que estavam em estado deplorável de tanto mexer em corrente. Mais uma coisa que não esquecerei.

Estava a mais de 500 km de Salta, e logo escureceria,

Baixei a velocidade para 80 km/h, o que foi um tormento, mas estava andando novamente!. Mal saí de Los Frentones vi um rapaz empurrando uma Krypton. Parei para ajudá-lo naquele fim de mundo, ele escorria de suor e cobrira a cabeça com um casaco para se proteger do sol. Estava com o pneu furado, não tive como ajudá-lo, nem sei como conseguiu resolver seu problema.

Enquanto eu conversava com o rapaz da Krypton, passaram 2 motociclistas do Brasil por nós sem parar. Mantive minha velocidade de penitência, e ao chegar nos policiais de Pampa de los Guanacos (os mais corruptos da ruta 16), eles estavam parados "conversando". Fiz um sinal para o guarda e passei direto, sem ser parado. Logo adiante parei para abastecer e chegaram os 2 motociclisatas, que se chamam Júlio e Almir. Tiveram que dar uma "contribution para la policia". Eles vão também para Uyuni, porém com um roteiro diferente do meu. Conversamos sobre a viagem, mas não posso acompanhá-los, pois além de estarem com motos maiores e mais potentes, não posso correr até que troque a corrente, sob pena de ficar definitivamente na estrada, sem conserto.

Encontramo-nos no posto de gasolina seguinte, 100 km adiante, em Monte Quemado, eles iriam tentar cambiar dinheiro na cidade.

Segui até Taco Pozo, onde entrei para pernoitar, estava exausto pelos acontecimentos e pela baixa velocidade naquela reta interminável, parecia que o tempo e os quilômetros não passavam.

Taco Pozo parece uma cidade de 100 anos atrás: cortada ao meio por uma ferrovia, só tem ruas de terra e casas simples. Existe um hotel, onde fiquei. É uma boca de porco, mas não tinha opção, pois estava muito cansado e com muita dor nas costas.

Após um banho restaurador, saí para jantar, mas só consegui comer um hamburguer. Ao menos tudo se resolveu e acabou bem.

O dia foi puxado, não rodei muito (cerca de 500 km), mas foi uma lição de solidariedade que não esquecerei.

Valeu!

sexta-feira, 23 de março de 2012

Foz do Iguaçu a Resistência

O dia amanheceu com algumas nuvens em Foz, porém sem chuva. Eu houvera visto na internet que em Resistência não estaria chovendo, então arrumei tudo, vesti a calça um pouco molhada e desci para tomar  café da manhã. Fiquei conversando com Kenny e Lobo, motociclistas do Renegados MC, e atrasei um pouco a saída. Passei em um posto, abasteci a moto e troquei o óleo. Dirigi-me para a fronteira, e após os trâmites aduaneiros e uma troca de reais por pesos argentinos, às 9:45 h já estava rodando em terras argentinas.
Peguei a ruta 12, uma das estradas em que mais gosto de andar: asfalto impecável, vazia, bem sinalizada e cercada de uma mata densa muito bonita, que é a continuação do parque do Iguaçu. É uma delícia de andar, principalmente no seu primeiro trecho de 310 km, entre Foz do Iguaçu e Posadas, a capital da província de Missiones.
Após Posadas a estrada muda completamente, às suas margens não há mais matas, mas sim campos desmatados e transformados em pastos ou áreas de agricultura. Assemelha-se ao Chaco. São mais 350 km de Posadas a Resistência, capital do Chaco.
O dia foi todo de sol e céu azul. Concluo que só chove no Brasil! Não é a primeira vez que observo isto, basta atravessar a fronteira e o tempo e a temperatura mudam. Tentem, para confirmar o que digo!
Os guardas estavam muito vorazes. Por duas vezes precisei usar muita conversa para escapar de dar propina, mas acabei sucumbindo na entrada da ponte General Belgrano, sobre o rio Paraná, logo após cruzar a cidade de Corrientes. Quando vi que o guarda ameaçava prender a moto até que eu pagasse uma suposta multa, resolvi a questão com 100 pesos, morrendo de raiva e de pena de dar um dinheiro precioso para um safado. Faz parte do passeio, mas seria melhor sem isso!

                                                                                    Ruta 12, trecho Posadas-Corrientes 

Amanhã, no cruzamento do Chaco pela ruta 16, local famosos pela agressividade dos policiais para extorquir dinheiro, já imagino o que passarei. Está ficando difícil andar pela Argentina.
Em uma parada para abastecer, conversei com um senhor que retornava de Machu Pichu de carro. Disse que a Bolívia está um horror, que devo evitá-la (!!). Não estão querendo vender gasolina a estrangeiros, fecham as rodovias e praticam arrastões, e por aí afora. Ele teve um relógio e dinheiro roubados em um
bloqueio  da estrada, e a polícia só fez recomendar que se tome cuidado e evite estradas pouco movimentadas.Ele teve que comprar gasolina no câmbio negro, na mão de policiais. A coisa está feia!
Continuarei seguindo em frente com a minha viagem. Ao chegar à fronteira, decidirei o que fazer, mas não gostaria de voltar pelo mesmo caminho.


Para quem diz que a gasolina é barata na Argentina!

No momento estou em Resistência, em um hotel onde já fiquei 2 vezes. É caro, mas é uma cidade grande e não há muitas opções. Rodei os 660 km de Foz até aqui em 9 horas, mesmo com as paradas para abastecer, almoçar e negociar com guardas. As travessias urbanas de Posadas e Corrientes também tomam algum tempo.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Um dia de muita chuva

Antes de sair, costumo fazer um pequeno check da moto. Lubrifiquei a corrente e ao conferir o nível do óleo, vi que a vareta não estava nem molhando! Segui sem exigir muito do motor em direção a Londrina. O primeiro posto que possuía óleo para vender, estava a 60 km de distância. Completei o nível e segui viagem.

Entre Cornélio Procópio e Londrina a estrada estava vazia, uma beleza para andar. Nem corri, pois não havia necessidade. Atravessar o perímetro urbano de Londrina é um saco: velocidade controlada, quebra molas e muitos sinais. Leva-se quase meia hora.

Entre Londrina e Maringá, a estrada também não estava cheia, uma delícia. Em Maringá a sinalização é deficiente, se eu não conhecesse o contorno sul, teria atravessado a cidade, o que já ocorreu na viagem a Atacama. Perde-se no mínimo 45 minutos. O contorno tem 12 km de asfalto ruim, mas compensa.


Uns 30 km após Maringá, desabou uma chuva como eu nunca houvera visto. Primeiro, pingos grossos e volumosos, depois veio um vento fortíssimo e chegou até a cair um pouco de granizo. A chuva era tal que o dia fez-se noite e os pingos machucavam onde batiam, devido à velocidade. Não costumo ter medo de chuvas ou tempestades, mas tive que parar onde achei um posto como abrigo. A visibilidade era próxima de zero, parecia um dilúvio. Até os caminhões estavam parando.


Quando o vento passou, segui viagem sob o temporal, que me acompanhou até Foz do Iguaçu, foram mais de 6 horas de chuva impiedosa. Meu nariz escorria direto, e o resfriado piorou, mas eu não poderia ficar parado, tinha que seguir.

Felizmente, ao chegar em Foz do Iguaçu, já às 18:30 h, a chuva deu uma trégua. Hospedei-me em um hotel meia-boca por R$60,00, mas como é só para dormir, não me importo.

Minhas roupas estão molhadas, até a máquina fotográfica, dentro do próprio case e dentro do alforje, estava molhada. Tomara que não estrague!

Minha intenção é amanhã pela manhã ingressar na Argentina, mas agora não consigo pensar com clareza o que farei. Quando chegar a hora, decidirei.

Apesar de toda a chuva, consegui andar a uma velocidade razoável, em alguns trechos mais retos mantive 110 km/h, normalmente fui entre 90 e 100 km/h.

No hotel conheci 2 motoqueiros do motoclube Renegados, de Praia Grande/Santos, estavam voltando do Uruguai. Deram-me um adesivo.

quarta-feira, 21 de março de 2012

O primeiro dia

Finalmente chegou o dia!
Não dormi bem à noite, com mal estar generalizado e muita dor de garganta, mas imaginem se eu desistiria ou adiaria a viagem!
Após tomar café na padaria em Rio Claro (onde pernoitei), saí às 7:30 h, com neblina e um pouquinho de frio.
Após a deliciosa RJ 155 até Barra Mansa, cheguei à Dutra e segui viagem, no ritmo que a Falcon permite. A Dutra estava muito tranquila, com pequeno volume de veículos, assim como a Carvalho Pinto. Cruzar São Paulo nunca é bom, mas desta vez levei apenas 50 min do último posto da rodovia Trabalhadores até entrar na rodovia Castelo Branco. Mesmo de moto, já cheguei a levar 1:10 h para percorrer este trecho. Percorri os 315 km da Castelo Branco a uma velocidade em torno de 110 km/h, embora a estrada permitisse 120 km/h. Desta maneira, poupei a moto e a mim mesmo, pois o stress aumenta com a velocidade.
Após o término da Castelo, segui na direção de Ourinhos, e uma sinalização deficiente da concessionária CART me levou a errar uma saída, e nem notei. O mais interessante é que já fiz este caminho mais de 20 vezes! Andei muito tempo na rod. Raposo Tavares, até desconfiar que havia algo errado. Como para tudo tem jeito, peguei uma estrada secundária que passa por Palmital e foi sair em Andirá, já no Paraná, depois de cruzar o imponente rio Paranapanema. Esta estrada está ótima dentro do estado de São Paulo e péssima após entrar no Paraná, o que mostra a diferença entre as gestões estaduais e a importância que cada estado dá às suas rodovias.

Andei cerca de 90 km e cheguei a Cornélio Procópio (PR), minha meta estabelecida para hoje.
Viajei bastante combalido e congestionado todo o dia, sentindo-me até um pouco febril mas consegui andar 830 km em 11 horas de viagem. Nada mau para o primeiro dia.
Hospedei-me no hotel Midas (R$71,00), onde já estivera por duas vezes em viagens anteriores. Curioso é que consegui chegar ao hotel atravessando toda a cidade, sem errar o caminho! E olhe que não é tão simples!
A moto está se comportando muito bem. Sinto falta do torque e da velocidade da Bandit, mas já me entendi com a Falcon, apesar de mais lenta e mais fraca, ela dá conta do recado, apenas precisamos conhecer suas limitações para não arriscar alguma ultrapassagem e correr perigo. A média de consumo foi 17 km/litro, variando de 20 km/l nos trechos onde a velocidade média foi inferior a 100 km/h e 15 km/l quando andei a 120 km/h, ou seja, a Bandit com seus 4 cilindros e 100 CV é mais econômica que a Falcon, de 1 cilindro e meros 32 CV. Isto a 120 km/hora! O  arrasto (resistência ao deslocamento) está muito grande devido aos alforjes laterais. Um pequeno aumento na velocidade aumenta exponencialmente a resistência do ar e o consumo.
Quanto às estradas que percorri, já as conhecia, talvez por isso não discorra muito sobre o assunto. O por-do-sol na pequena estrada que liga a Raposo Tavares a Andirá via Palmital foi fantástico!
Amanhã tem mais!

sexta-feira, 16 de março de 2012

Quase partindo!


Estou em Rio Claro, a uma semana da partida para o Norte da Argentina e Bolívia. A expectativa é grande, não vejo a hora de me lançar na estrada.
A Falcon está pronta, ontem troquei-lhe o óleo e hoje instalei os protetores de mão e uma pequena bolsa no guidão para facilitar o dinheiro e o troco nos diversos pedágios pelos quais passarei.
Estou levando pouca bagagem, talvez as roupas de frio sejam insuficientes, mas o espaço é pouco e precioso.
Para o acondicionamento de todas as coisas, levarei o bauleto, uma pequena maleta amarrada ao banco e os alforjes laterais. Não gosto de viajar com alforjes ou malas laterais, a moto fica “gorda” e limitada para passar em locais apertados, mas acho que serão necessários desta vez.

No mais, é aguardar a partida, prevista para a próxima semana!