domingo, 28 de fevereiro de 2021

Cristalina e Alto Paraíso - Centro-Oeste

 

Viagem a Cristalina e Alto Paraíso (Chapada dos Veadeiros)

18/02/2021 a 27/02/2021 - 10 dias

Moto: Honda NX 350 Sahara 1992

Guilherme Edel


Primeiro dia - 18/02/2021 – quinta-feira – Rio Claro a Jaú

Saí de Rio Claro com a Sahara às 6:30 h e cheguei em Jaú às 16:15 h. Na parada para tomar café em Aparecida, notei que o retentor do acionador da embreagem havia “estourado”, e a moto estava jogando bastante óleo fora, lambuzando o chassi, a lateral, minha bota e até a bagagem sobre o banco. Verifiquei o nível do óleo e segui em frente.



                                    Vazamento de óleo pelo retentor do acionador da embreagem

Não ultrapassei os 90 km/h, que foram a minha velocidade de cruzeiro em toda esta viagem. Mesmo assim, a moto fez apenas 15 km/litro em todos os abastecimentos. Como a bagagem ocupava parte do banco, fiquei desconfortável. A moto é pouco potente (eu já sabia) comparada às minhas outras, mas é uma experiência interessante viajar com uma moto de porte menor e pouco potente. Eu só gostaria que fosse mais econômica!

Tempo bom, foi um bom dia de viagem, rodei 600 km até Jaú.

Ao estacionar no hotel, o pedal de marchas soltou-se do eixo; eu não tinha a chave 8 mm para recolocá-lo e apertá-lo. Eram 18:20 h, a solução foi soldar o pedal ao eixo em uma oficina de reparo de tratores, a única aberta a esta hora. A solda foi feita em cima do pedal sujo de óleo, creio que acabará se soltando, mas é o que deu para fazer. Foi muita correria para achar a oficina e consertar!

 


Segundo dia – 19/02/2021 – sexta-feira - Jaú a Uberlândia

Tive dificuldades para encontrar um posto de gasolina na saída de Jaú, rodei bastante e quase fiquei sem combustível. Em função deste atraso, saí do hotel às 6:30 h, mas só peguei a estrada às 7:10 h. A viagem foi tranquila com estrada excelente até o ponto de encontro com o grupo da WMT em Ribeirão Preto.

Todos estavam com motos grandes, a maioria BMW GS 1200; tomei café e parti na frente, em ritmo tranquilo, em torno dos 90 km/h.

Parei para almoçar e segui logo em frente, eles me alcançaram a 20 km de Uberlândia e me deixaram para trás. Tive que chegar ao hotel perguntando, Uberlândia é uma cidade grande. A 1500 m do hotel, a solda do pedal de marchas soltou-se. Apenas com a 1ª marcha engatada, consegui chegar ao hotel, com o motor “gritando” e a moto a 20 km/h em meio ao trânsito.

                                    Aguardando o mecânico em Uberlândia

                                     Oficina em Uberlândia                     

Tirei a bagagem e saí para tentar encontrar alguma oficina ou tornearia que refizesse a solda, mas acabei levando a moto a uma oficina de motos mesmo. Fiquei mais de 3 horas na oficina, o mecânico teve muito boa vontade e fez uma adaptação a partir de um pedal de Agrale que parece que vai funcionar, não sei por quanto tempo! Retornei ao hotel às 19:40 h, já à noite.

                                   Hotel em Uberlândia                       

Tomei banho e comi pizza com alguns membros do grupo (Andrey, Anselmo, Renato e Marco). Ficamos conversando no restaurante do hotel antes de nos recolhermos para dormir.

 

Terceiro dia – 20/02/2021 – sábado – Uberlândia a Cristalina

Combinamos sair de Uberlândia às 10 h. Às 9 h o sol estava forte e o céu totalmente azul. Improvisei um “retentor” para o eixo acionador da embreagem com fios de linha retirados de um pano de chão e completei o nível do óleo.

Parti um pouco antes do grupo, atravessei a cidade, cheguei à BR-050 e segui no meu ritmo, para não forçar a Sahara. Já no estado de Goiás, parei para abastecer e comer um sanduíche em Catalão, no posto JK, e voltei à estrada. Um pouco adiante o grupo me alcançou e paramos para almoçar.



Novamente, saí na frente para não atrasar o grupo, que me ultrapassou e me aguardou após um pedágio a 50 km de Cristalina. Tentei andar junto com a turma, mas era impossível. Havíamos passado por uma placa que anunciava o próximo posto a 110 km. Minha moto entrou na reserva e vi que a gasolina restante no tanque não chegaria a Cristalina, e não havia postos. Fiz um retorno para abastecer em um posto na outra pista da estrada, e o Marcelo me acompanhou, escoltando-me. Havia somente 0,8 litros no tanque, eu andaria no máximo mais 10 km! Chegamos ao hotel em Cristalina pouco após a chegada do grupo.


                                       Vanda e Marco, da WMT e Andrey



A convite, fomos visitar um motoclube vizinho ao hotel. Retornando ao hotel, ficamos conversando na área do estacionamento e conhecemos o Niwton, que viajava em uma XT 660R e acabou hospedando-se.

Jantamos no próprio hotel e fomos tomar café na loja de conveniências do posto vizinho (posto JK – é uma rede).

O pedal de marchas ficou bom, não houve mais problemas com ele, vim muito bem até aqui; a linha colocada no eixo que aciona a embreagem diminuiu consideravelmente o vazamento de óleo. A Sahara, após ter deixado a fábrica há 29 anos, ainda está vencendo as estradas!

 

Quarto dia – 21/02/2021 – domingo – Cristalina

Passeio a uma mina de cristais e à Cachoeira do Arrojado, em um micro-ônibus. A chuva chegou quando estávamos na cachoeira.





Retornamos ao hotel para trocar de roupa e saímos novamente, para almoçar e andar pelo centro de Cristalina. Quase tudo estava fechado, por ser um domingo. Na volta para o hotel, paramos para comer pamonha em um local simples.

Conheci o Cícero, de Volta Redonda (olhe a coincidência!) que viajava em um motor-home, conversamos bastante sobre a possibilidade de fazermos algumas viagens de moto juntos, quem sabe uma até o Alaska? Manteremos contato.

 

Quinto dia – 22/02/2021 – segunda-feira – Cristalina

Passeio ao Balneário das Lajes. Ficamos lá até as 14 h, tomando banho em cachoeiras, rios e poços. O local não tem estrutura para alimentação, mas foi agradável. A título de almoço comemos biscoitos e algumas porções de petiscos.







 

Sexto dia – 23/02/2021 – terça-feira – Cristalina a Alto Paraíso de Goiás

O grupo partiu de volta com destino a Uberaba. Eu parti em direção a Alto Paraíso, na Chapada dos Veadeiros, sozinho, como gosto de andar.

No primeiro trecho rodei 138 km sem encontrar sequer um posto de abastecimento, o que só foi ocorrer em Planaltina, próximo a Brasília. Viajei por uma estrada estadual (em bom estado) para cruzar o DF sem precisar passar por dentro de Brasília.


                                      Na estrada (GO-118)



                                   Pousada em Alto Paraíso

Atravessei o DF e ingressei na GO-118. Abasteci e almocei em São João da Aliança. A partir daí peguei 3 fortes pancadas de chuva na estrada, mas mantive o meu ritmo. A Sahara foi muito bem, com o vazamento de óleo bem diminuído e o pedal de marchas funcionando perfeitamente. É bom andar no ritmo que eu mesmo determino, sem ter que me importar em acompanhar ou chegar junto com as motos maiores.

Cheguei cedo em Alto Paraíso. Hospedei-me, tomei banho e a chuva chegou impiedosa. Aguardei uma estiagem e saí para tentar resolver o problema do meu celular, que não está carregando. Tomei sorvete, comprei pães e queijo e soube que o problema não é do carregador, mas sim do próprio telefone. E agora?

                                   Alto Paraíso de Goiás

A chuva forte me pegou em cheio na cidade, longe da pousada. Aguardei por 1 hora por uma estiagem. Quando diminuiu um pouco, segui a passos rápidos para a pousada, mas a chuva aumentou novamente e cheguei totalmente encharcado: tênis, meias, bermuda e camiseta! E eu só trouxe 1 par de tênis e 1 bermuda!

Enxuguei-me, fiz e comi um sanduíche e fiquei confinado e fazendo hora em um quarto de 9 m², que não tinha sequer uma mesa, até a hora de dormir, uma vez que a chuva não permitia sair. Para piorar, a TV só pega um canal, o Canção Nova! E o celular não funciona!

Só me restou aguardar a passagem das horas até o sono chegar, em silêncio e sem qualquer distração!

 

Sétimo dia – 24/02/2021 – quarta-feira – Alto Paraíso – São Jorge – Chapada dos Veadeiros

Manhã chuvosa, sem possibilidades de qualquer passeio, era impossível até sair à rua. Às 10 h, aluguei o carro da proprietária da pousada. Passei em uma padaria, comprei um lanche para viagem e fui para São Jorge, distante 42 km de Alto Paraíso, onde se situa a entrada do Parque Nacional das Chapada dos Veadeiros. São Jorge é tipo uma Visconde de Mauá piorada, com ruas lamacentas, cheia de gente alternativa e um astral diferente. A chuva parou logo que saí de Alto Paraíso e o sol apareceu entre nuvens, fazendo calor.

Chegando em São Jorge, dirigi-me ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Eram 11:55 h e a entrada era permitida somente até as 12 h. Fui a última pessoa a estacionar e a entrar.

                                   São Jorge




Assiste-se a uma pequena apresentação e a um vídeo de 3 min sobre o parque e parte-se para as trilhas, sem guias. Escolhi a trilha dos saltos, das corredeiras e do carrossel, de 11,8 km.

Foi uma trilha puxada, pois não era plana, havia muitas subidas e descidas e caminhava-se em meio a pedras e, para dificultar, durante alguns quilômetros com uma camada de água na trilha. Nos últimos quilômetros eu estava exausto de tanto andar para cima e para baixo entre pedras. A trilha valeu, as quedas d’água são incríveis (uma de 80 m e outra de 120 m de altura), o “carrossel” é um redemoinho impressionante e as corredeiras, além de belas, rendem um bom banho. Tudo em meio à vegetação de cerrado e muitos cânions.

                                   Trilhas são sinalizadas por cores - não há guias nem resgates!
                                   Em uma das trilhas do parque












Cheguei de volta à pousada às 17 h, extremamente cansado, mas satisfeito pelo passeio. Só chove em Alto Paraíso!


                                   Chuva sobre Alto Paraíso

À noite, jantei no restaurante Benzim um rosbife com champignons acompanhado de arroz cremoso de castanhas, uma delícia! Como sobremesa, subi a rua principal e tomei um sorvete.

Amanhã iniciarei o retorno. Estou a 1.450 km de casa!

 

Oitavo dia – 25/02/2021 – quinta-feira – Alto Paraíso de Goiás a Cristalina

Choveu forte durante toda a madrugada, pela manhã chovia mais fraco. Juntei toda a bagagem e acondicionei-a na moto, vesti a capa e parti às 8:30 h com chuva. Ao sair do portão da pousada, a moto não engatava nenhuma marcha que não fosse a 1ª. Era 1ª ou neutro, as demais não engatavam. Como a chuva havia aumentado, eu não quis parar e saltar para verificar o que estava ocorrendo, então rodei 3 km até a saída da cidade em 1ª marcha a menos de 20 km/h. Informei-me e cheguei a uma oficina. Novamente, o problema estava no pedal de marchas! O resumo é que fiquei na oficina até as 12:30 h. Foi retirado o pedal anterior, colocado um novo e feita nova solda, desta vez será impossível sacar o pedal sem inutilizar o eixo. A adaptação desta vez foi a partir de um pedal de Tornado. Os mecânicos Sinomar e William tiveram muita paciência e competência.






Quando saí de Alto Paraíso às 12:30 h a chuva havia cessado. Rodei 70 km e fui almoçar em São João da Aliança, no “Chapéu de Sol”, onde almoçara na ida.

Segui em frente pelo mesmo caminho da ida, a moto estava boa e andando bem, apesar do consumo absurdo de 15 km/litro, o que foi uma constante durante toda a viagem.

Cruzei o DF, voltei ao estado de Goiás e parei para pernoitar em Cristalina, no mesmo hotel onde houvera ficado dias antes com o grupo da WMT. Apesar de haver atrasado bastante na saída devido ao problema com o pedal de marchas, a viagem rendeu bem e foi agradável.

                                  De volta a Cristalina, no mesmo hotel da ida!


 

Nono dia – 26/02/2021 – sexta-feira – Cristalina a Porto Ferreira

Um dia típico de deslocamento, porém sob forte chuva o tempo todo.

Muita chuva pela manhã em Cristalina, com neblina baixa. Parti sob o temporal com muito cuidado. Escolhi o caminho através da BR-050 (ao invés da BR-040), pois as estradas são muito melhores; sob chuva forte, isso faz muita diferença.

A chuva não deu trégua, fui seguindo até Catalão com a forte chuva e a neblina me acompanhando, 189 km após Cristalina. Abasteci a moto, tomei um café quente e continuei a jornada até Uberlândia, onde almocei. Após Uberaba a chuva diminuiu, mas não era possível tirar a capa. No Graal Trevo, em Ribeirão Preto, o tempo abriu e um sol tímido apareceu, mas já eram quase 18 h.

                                                Catalão, posto JK - Muuuuita chuva!


Eu precisava achar um hotel para descansar, pois já houvera rodado bastante e não dirijo à noite; fui seguindo pela Anhangüera (SP-330) até Porto Ferreira, onde entrei na cidade e consegui um hotel. Mal saltei da moto e adentrei a portaria do hotel, a chuva voltou! A cidade está em lockdown devido à pandemia; pedi uma deliciosa pizza de escarola com aliche e a devorei no quarto.




Hoje foram 650 km em 10,5 h de viagem sob uma chuva implacável, e a Sahara mostrou que, apesar da sua idade avançada, ainda é confiável. É uma Honda! Isso diz tudo!

A escolha do trajeto pela BR-050 foi mais do que acertada! Foi perfeita!

 

Décimo dia – 27/02/2021 – sábado – Porto Ferreira a Rio Claro (RJ) – Fim da viagem

Choveu bastante durante a madrugada, pela manhã já não chovia, apesar de as ruas e estradas estarem ainda molhadas da chuva da noite.

Consegui sair um pouco antes das 8 h, depois de separar as coisas que se molharam no dia de ontem durante a chuva impiedosa. Segui pela Anhangüera; em Campinas peguei a D. Pedro I, a qual percorri até a Dutra. Almocei no Spoletto do Arco-Iris de Roseira. Mais adiante, como sempre, tomei um Ovomaltine em Floriano e cheguei em Rio Claro às 16 h.

                                    Chegando em casa - Final feliz, missão cumprida!


Viagem do dia ótima, 560 km com a Sahara a 90 km/h, sem apresentar qualquer problema. Tempo bom, apenas alguns chuviscos na Dutra.

 

Parecer final

A viagem com um todo foi muito boa, apesar dos problemas apresentados com o pedal de marchas da Sahara, e isto não me desanimou em momento algum. Foi instigante e uma experiência diferente percorrer 3.180 km com uma moto antiga, limitada e de pequena potência (31 CV). Isto só corrobora minha teoria de que qualquer moto vai a qualquer lugar e que o prazer de estar sobre uma moto supera a falta de potência, de imponência e de status. Eu gosto de motos, gosto de rodar e de viajar de moto, não importa a cilindrada ou o modelo.

O fato mais curioso de tudo é que os pilotos de motos ditas “maiores” ou de grife me ignoravam quando cruzavam por mim na estrada ou nas paradas. Quando estou com motos de alta cilindrada, eles vêm conversar e acenam ao cruzar na estrada. Uma Sahara velha? Fui ignorado solenemente!! Nem ao menos me cumprimentavam nos estacionamentos das paradas que fiz para café ou almoço!

São seres superiores!