domingo, 8 de abril de 2012

O último dia - Assis (SP) a Rio Claro (RJ)

5 de abril de 2012

O hotel em Assis era muito bom, dormi como uma pedra até as 6:30 h. Às 8:00 h já estava na rodovia Raposo Tavares em direção a São Paulo. Cerca de 150 km adiante entrei na rodovia Castello Branco. A moto andava bem, mantive o ritmo dela, e ela voltou a fazer em torno de 19 km/litro de gasolina. Não adianta forçar a barra, temos que respeitar as limitações da máquina, sob o risco de ficar na estrada.

                                          Final (ou início) da Castello Branco - Esp. Santo do Turvo

Almocei no Frango Assado de Sorocaba, quando notei um barulho estranho no pinhão. Estiquei e lubrifiquei a corrente, que estava bem frouxa, o barulho diminuiu e continuei.
                                          Esticando a corrente na Castello Branco

Percorri os 315 km da Castello Branco e cheguei em uma Marginal do Tietê caótica com milhares de carros, ônibus e, principalmente caminhões. Era a saída do feriadão da semana santa, quando os paulistanos aproveitam para fugir da cidade em direção ao litoral. Ainda errei uma agulha na marginal e fui parar na rodovia Anhangüera, tendo que fazer um retorno em meio ao intenso tráfego, e com um calor de matar sob o casaco.

De volta à marginal, andei com cuidado pela pista lateral (a expressa é proibida às motos) até chegar à Dutra. Decidi ir pela Dutra mesmo, pois a Trabalhadores estava um congestionamento só. Andei muito lentamente na Dutra até a altura de Bonsucesso, com trânsito denso e lento, no máximo a 30 km/h.

A partir daí o fluxo fluiu melhor, mas com a estrada sobrecarregada de veículos, principalmente os pesados. Fui seguindo com cuidado até Roseira, onde apenas abasteci e continuei meu caminho.

Mais uma parada em Floriano, na cantina Ovomaltine, uma parada essencial para mim, que desde os tempos da cantina na própria fábrica paro por ali e tomo um autêntico Ovomaltine com leite.

Anoiteceu em Barra Mansa, entrei na RJ 155 e cheguei às 19:00 h em Rio Claro, local de onde parti rumo a esta aventura há exatos 16 dias e 7.280 km atrás.

Uma viagem ótima e cansativa, devido às limitações e características da Falcon, mas quem disse que uma moto pequena, antiga e carburada não seria capaz de suportar o que ela passou? Basta respeitar seu ritmo e conhecer suas limitações. Todas as vezes que tentei imprimir um regime que não era o dela, ela "reclamava" e aprontava alguma, como se para me alertar que eu deveria me lembrar em que máquina estava.

No final das contas, tudo terminou bem e o saldo foi altamente positivo. Além de conhecer a Quebrada de Humahuaca (um sonho antigo) e voltar a San Pedro de Atacama, ainda fiz amizade com Júlio e Almir, duas pessoas incríveis, que me acolheram em sua expediçao com motos maiores, mais potentes e injetadas e tiveram paciência com as minhas limitações, dando ainda uma ajuda quase divina quando precisei, seja empurrando a Falcon pelas cordilheiras geladas ou me escoltando nos trechos onde a Falcon mostrava sua inferioridade frente à V-Strom e à GS 800. Senti-me até amparado!

Apesar de não termos conseguido ingressar com as motos na Bolívia devido ao preconceito contra estrangeiros e à burocracia e corrupção reinantes naquele país, retornei a San Pedro de Atacama pela 3ª vez, cruzando o Paso de Jama, uma viagem que todos os apreciadores da natureza e das belezas selvagens da puna deveriam fazer. Não é um trecho fácil a travessia entre Purmamarca, na Argentina e San Pedro, no Chile, mas vale o sacrifício.

Cosidero a vigem encerrada com sucesso. Mais uma vez, agradeço a Deus por ter-me dado saúde para aproveitar todas as belezas que vi e vivi, e agradeço também aos meus novos amigos, Júlio e Almir pelo companheirismo e por toda a ajuda. Tenho certeza que ainda faremos outras viagens juntos, já me sinto até íntimo de seus amigos (Cláudio, Matheus e outros), mesmo sem conhecê-los. Como eles dizem, há parceiros e "malas", mas cabe a nós escolher os companheiros certos para cada viagem.

Até a próxima!

Guilherme Edel

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Mais um problema!

Eu e Júlio saímos de Foz do Iguaçu um pouco antes das 9:00 h. Almir seguiu viagem  ontem, após nos deixar na oficina do Geraldo, que trocou o regulador de voltagem e deu um jeito na moto.
Abastecemos próximo ao hotel, e nos primeiros quilômetros rodados já notei que a moto falhava nas rotações intermediárias. Ela funcionava em marcha lenta e em altas rotações, mas não conseguia andar em velocidade abaixo de 80 km/h.
Fomos andando; enquanto estávamos na pista dupla, tudo foi bem, mas após o término da autopista, a cada caminhão na frente com velocidade reduzida, a cada quebra-mola ou redução de velocidade e nos postos de pedágio, a moto "apagava" e não conseguia reacelerar. Isto aconteceu diversas vezes, um verdadeiro tormento, mas seguimos assim por 400 km até chegarmos a um agradável restaurante em Floresta, a 30 km de Maringá, onde almoçamos um comida gostosa, com feijão e arroz. Só então me dei conta de que não comia feijão e arroz desde que saí de casa.

Terminado o almoço, fomos para Maringá à oficina do "Araponga", amigo do Júlio. Cruzar a cidade até chegar à oficina foi uma verdadeira maratona: a moto morria e não queria ligar, e quando ligava não conseguia arrancar, era necessário puxar o afogador a acelerar ao máximo, e ela saía empinando a roda dianteira.
Ficamos na oficina durante 3 horas. Nesse meio tempo o Almir veio nos encontrar e buscar seu notebook, que houvera ficado em poder do Júlio.
Saímos da oficina às 17:00 h, e rodamos os 110 km que separam Maringá de Londrina. Em Londrina, me despedi do Júlio, que foi para casa, e eu entrei na estrada que liga Maringá a Assis, no estado de São Paulo. Eram 18: 20 h. Logo escureceu, e rodei 140 km à noite, mas a sorte e os céus estavam do meu lado: tempo bom, lua cheia, estrada praticamente reta  e bem sinalizada. Apesar de haver um movimento razoável de carros e caminhões, andei bem, chegando a Assis às 20:20 h.
Hospedei-me no hotel Paragem, muito bom, novo, por R$ 58,00, com garagem e café da manhã.
Após um merecido banho, fui a pé jantar no restaurante "Vozão", uma comida caseira da melhor qualidade, conseguiu superar o almoço de hoje. Arroz, feijoada, carne de panela e salada, com um sabor especial. Tudo isso e mais um refrigerante 600 ml por R$  10,00. Maravilha!
Retornei ao hotel e fui dormir. Espero que doravante a moto se comporte bem e não me apronte mais nada!
Acho que agora que estou rodando sozinho novamente, manterei um ritmo mais tranquilo e não terei mais problemas. Tentei imprimir à Falcon um ritmo muito forte, que ela não suporta. Não há como acompanhar meus companheiros que possuem motos potentes e grandes com a pequena Falcon, projetada para rodar em ambientes urbanos e em velocidades mais baixas.
Esou a 950 km de casa!

terça-feira, 3 de abril de 2012

Um dia em Foz do Iguaçu

Pela manhã, eu e Júlio ligamos a Falcon no tranco e fomos nos encontrar com Almir, que nos levou à oficina do Gerado, para consertar minha moto. Deixamos a moto lá. Almir seguiu viagem para Maringá, pois tinha negócios a resolver, Júlio e eu pegamos 2 moto-táxis e fomos na garupa para o Paraguai, disputando na ponte o trânsito com carros, vans, ônibus, pedestres e caminhões, em um cenário tipico de terceiro mundo.

Fizemos algmas compras no Paraguai e retornamos a Foz, para pegar a moto na oficina.

O problema estava no regulador de voltagem, conforme eu imaginava. Aproveitei e mandei trocar o relé de partida, o óleo e o filtro. O importante é deixar a moto boa para encarar os 1.600 km que me separam do Rio de Janeiro.

 
Ao retornar ao hotel, ao anoitecer, sentamos à beira da piscina e esperamos a noite cair, tomando uma gelada. Vida dificil!

Resistência a Foz do Iguaçu

2 de abril de 2012 - segunda feira

Antes de sair de Resistência, tive que esticar a corrente da moto, que houvera folgado bastante. Feito isso, lubrificamos as correntes das 3 motos e saímos. Para pecorrer os primeiros 25 km, levamos 45 min, pois tivemos que sair de Resistência, cruzar a ponte Gral. Belgrano sobre o rio Paraná e atravessar a cidade de Corrientes sem usar a faixa central da avenida principal (que é a continuação da ruta 12). Muitos sinais e velocidade limitada contribuiram para a baixa média de velocidade.

Ingressamos na ruta 12 e o dia foi todo passado nessa estrada. Almoçamos em Posadas e às 18:00 h chegamos à fronteira Argentina/Brasil. Ao parar na aduana argentina minha moto desligou e não quis mais funcionar. Creio que foi o regulador de voltagem que se estragou, danificando a bateria.

Demos um tranco para ligar e entramos no Brasil, na cidade de Foz do Iguaçu. Fomos para o hotel Muffato com a moto sem carregar a bateria; o farol foi ficando fraco, até a buzina parou de funcionar. Com alguma dificuldade, chegamos ao hotel.

                                                                                   Hotel Colon, em Resistencia


Almir morou por 20 anos em Foz, conhece tudo na cidade. Ele foi para a casa de sua sogra, onde pernoitaria, e Júlio e eu ficamos no hotel. Mais tarde, Almir veio nos encontrar no hotel, de onde saímos para tomar cervejas e comer petiscos no bar do Ceará, seu amigo, onde ficamos até as 24:00 h. Comemoramos o sucesso da viagem, que consideramos excelente. Fui e voltei de carona na garupa do Almir, pois minha moto estava morta, nem ligava.



Ponte Gral. Belgrano





                                            Fronteira Brasil-Argentina

domingo, 1 de abril de 2012

Um dia de ruta 16, cruzando o Chaco

A previsão para o dia de hoje era cruzar todo o Chaco pela ruta 16 até chegar a Resistência, onde pernoitaríamos .

Só saímos efetivamente de Joaquim V. Gonzales às 9:40 h, já com calor. Mantivemos a velocidade entre 110 e 120 km/h durante quase todo o percurso, de pouco mais de 700 km.

Não há muito o que dizer sobre a ruta 16: sempre plana, sem qualqer atrativo às suas margens, quente e com o asfalto iniciando um processo de deterioração em alguns trechos, em especial dentro da província de Salta.



A única coisa digna de nota foi o local onde paramos para almoçar em Pampa de los Guanacos: sujo, mal frequentado e com aparência nada convidativa, mas não havia outra opção a menos de 75 km e já estava ficando tarde. Fui olhar a churrasqueira e havia um gato morto na mesma, então achamos prudente não pedir churrasco. Nosso pedido foram 3 frangos à milanesa, encharcados de gordura, que comemos para não ficar com fome. Júlio e Almir ainda comeram ao todo 9 ovos fritos, os 3 de cada um e mais os meus 3.





Na saída, a dona do restaurante e mais as meninas que a ajudavam (seriam suas filhas?) ficaram embasbacadas com as motos, acho que nunca haviam visto uma dessas de perto. Tiramos fotos e seguimos nosso caminho. Acho que a passagem de 3 motoqueiros brasileiros por lá foi um evento, e será sempre lembrada!


Continuamos pela monótona ruta 16 até chegar a Resistência às 17:30 h. Não rodamos demais, foram 715 km em 7:30 h, mas o forte calor nos deixou cansados. Hospedamo-nos no hotel Colón, onde tenho ficado, em um espaçoso quarto triplo com direito a um banho de 1º mundo.

À noite, cerveja Stela com picada (tira gosto). Excelente!

Susques a Joaquim V. Gonzáles

31 de março de 2012

O dia amanheceu com céu totalmente azul e temperatura de 8 ºC em Susques, ideal para cruzar os 160 km de cordilhera que ainda faltavam.

A Falcon andou muito bem, fraca pela altitude e falta de oxigênio, mas venceu todas as subidas bem, inclusive a subida entre Salinas Grandes e Abra de Potrlillos, onde chegamos a 4.200 msnm.

Paramos em Salinas Grandes, onde conhecemos Pablo Luna, um motoqueiro argentino que estava fazendo uma viagem com uma Falcon até o México. Diversos motociclistas param por lá para aproveitar o local exótico, e sempre vamos conversando e conhecendo aventureiros como nós, que querem descobrir a América do Sul.


Na saída de Salinas Grandes, um motociclista local com uma pequena moto estava parado na beira da estrada, sem gasolina, e qualquer posto estava a mais de 100 km. Ele queria apenas conseguir subir a montanha, pois conseguiria descer desligado até chegar a algum povoado onde pudesse obter gasolina com conhecidos. Lembrei-me do Juan, que dispôs de seu tempo, boa vontade e experiência para me ajudar no Chaco e dei-lhe a gasolina que trazia em um galão para emergência. Essa era a emergência. Eu tinha a obrigação de fazer algo por alguém pra não ficar tão em débito com a justiça dos céus! Fiz o que deveria e segui viagem. Almir e Júlio estavam mais atrás, quando me alcançaram eu já estava bem mais adiante.                                      Não é neve, é sal!




Em uma parada para fotos na descida da imponente Cuesta de Lipán, conhecemos um motociclista austríaco que viajava de Honda Varadero. Ele houvera ficado maravilhado com Purmamarca, e eu lhe disse que ele gostaria ainda mais de San Pedro de Atacama. Ele se foi empolgado, não acredtava que ainda pudesse haver uma cidade mais interessante que Purmamarca. Seu irmão vinha um pouco atrás, com uma Honda Transalp. Eles despacharam as motos da Europa para Montevidéu,                                                            


onde iniciaram a viagem pelo continente sul americano O transporte custou US$ 2.000,00, e a Varadero custou US$ 4.000,00 na Áustria. Considerando-se que o salário médio dos europeus é maior que o nosso, é mais fácil para eles fazerem este tipo de viagem.



Continuando nossa viagem, descemos a Cuesta de Lipán, sempre imperdível, passamos pela região dos cardones (cactus gigantes) e entramos em Purmamarca pra retirar dinheiro em um caixa eletrônico.

Já em altitude mais baixa, a Falcon voltou a render novamente, e pude andar bem, embora sem conseguir manter o ritmo da GS 800 e da V Strom 1000, o que é normal.

Almoçamos em Jujuy, em um posto na estrada, e 160 km adiante saímos da ruta 9 para entrar na ruta 16, que cruza a província do Chaco. Rodamos mais 100 km e paramos em Joaquim V. Gonzales para pernoitar.


À noite saímos de moto pela cidade sem capacete (uma delícia), ninguém o usa por aqui. Tomamos merecidas cervejas Quilmes em um bar e depois fomos jantar uma parrilhada. Nosso hotel é ótimo (Ayres de Campo), uma descoberta de Júlio e Almir, que pernoitaram nele na ida, após nos conhecermos no Chaco.


Amanhã cruzaremos a ruta 16 com destino a Resistência. Era nossa intenção ir a Salta e passar um dia por lá para ir a San Antônio de los Cobres, mas a perda da jaqueta, dinheiro e documentos do Almir nos fez mudar de rumo, o que é compreensível.
                                                   GE, Júlio e Pablo, Salinas Grandes