terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Quatis e Passa Vinte - serra da Mantiqueira


Às 7:45 h saí de Rio Claro com a Falcon. É uma segunda feira de carnaval. Estava frio na RJ 155 e com muita neblina. Apesar do verão, a temperatura era de 16°C. A partir de Getulândia a neblina se dissipou e o céu mostrou sua cor azul.
Em menos de meia hora cheguei à rod. Presidente Dutra na altura de Barra Mansa, e tomei a direção São Paulo. Mantive velocidade entre 100 km/h e 110 km/h. Devido a uma sinalização deficiente, deixei passar a entrada principal para Quatis, e tive que seguir até Porto Real. Entrei no acesso a Porto Real, cruzei a cidade, atravessei uma enorme e estreita ponte metálica que só dava passagem para 1 carro e segui para Quatis por essa rota alternativa.
                                                         Igreja de Quatis

Quatis é uma típica cidade do interior: pequena, calma e com uma praça central onde existe uma igreja e alguns prédios públicos. A praça é bem arborizada e tem um coreto em seu centro. Há diversas casas e construções antigas pela cidade, porém havia diversas ruas interditadas devido aos festejos de carnaval.
Dei um giro pelo centro de Quatis e peguei a estrada RJ 159, que leva a Minas Gerais.
                                          Saindo de Quatis, com destino a Passa Vinte 

                                            RJ 159, trecho asfaltado

A estrada é bonita, tem bom asfalto, está sinalizada e o movimento de carros é pequeno, mas deve-se tomar cuidado com as curvas, que são muitas, e algumas muito perigosas. A rodovia vai seguindo entre as montanhas da serra da Mantiqueira, no meio de 2 ferrovias (uma de bitola larga e uma de bitola estreita, ambas ativas), e passa pelo povoado de Falcão, onde há 2 construções marcantes: uma pequena igreja e um banheiro público (masculino e feminino), na sua rua principal, que é a própria RJ 159.
                                          Igrejinha de Falcão

Após Falcão, acaba o asfalto e a RJ 159 passa a ser de terra, com muitas britas soltas pela pista. Não dá para manter velocidade alta, pois além de haver muita brita nas curvas, tornando a superfície extremamente escorregadia, ao se cruzar com algum veículo a nuvem de poeira é tal que às vezes é necessário quase parar até recuperar a visibildade. Há também trânsito de carroças e animais pela pista. Se fosse tudo reto, seria fácil, mas com curvas há que se tomar cuidado. A estrada margeia o rio das Pacas que em determinado momento se encontra com o rio Preto. No local há uma bela ponte ferroviária em atividade.
                                          Moto ultrapassada por um animal (literalmente)!

                                           Encontro dos rios Preto e das Pacas - ponte ferroviária

Após cruzar o rio Preto, entramos no estado de Minas Gerais.


Entre rios, fazendas, montanhas e chapadas, vamos subido lentamente até chegar a Passa Vinte, uma pequena cidade incrustrada na serra da Mantiqueira. 

Nessa cidade há 2 coisas que chamam a atenção: a praça, com seu coreto e igreja do século XIX e a estação ferroviária. O trem, de bitola estreita, ainda circula, mas apenas para o transporte de carga. Curiosamente, é o trem que vem de Ribeirão Vermelho (MG), passa por Barra Mansa e Rio Claro e vai até Angra dos Reis (RJ). É a antiga RMV, depois RFFSA, hoje concessionada à FCA. Isto significa que, no passado, era possível ir de Rio Claro a Passa Vinte de trem. Legal, não?


                                           Igreja de Passa Vinte

O ponto final do passeio foi Passa Vinte, gostei muito do passeio e do visual oferecido. Levei 3 horas desde Rio Claro, com paradas para apreciar a paisagem, tirar fotos e obter informações. A volta foi feita em apenas 1:20 h, com 1 parada para abastecer a moto. Andei mais forte no trecho de terra, porém sem abusar. Curti as curvas do trecho asfaltado da RJ 159 a 70 km/h e na Dutra mantive 120 km/h. Na RJ 155 a velocidade foi em torno de 90 km/h, e, assim, cheguei de volta a Rio Claro às 12:20 h, após percorrer exatos 200 km de ida e volta.
Mais um treinamento em estradas não asfaltadas para a viagem à Bolívia! Tive que lavar a moto e lubrificar a corrente na chegada, pois a quantidade de pó e pedriscos em toda a parte era grande.
E assim vamos viajando e conhecendo diversas regiões, que muitas vezes estão perto de nós mas não nos damos conta de sua beleza.

Sertão dos Hortelãs e Sertão do Prata


Mais uma aventura-treino durante o carnaval 2012. Após tomar um café na padaria em Rio Claro, segui com a Falcon em direção a Bananal (SP). Na localidade de Pouso Seco inicia-se uma pequena estrada (se é que se pode chamar aquilo de estrada), praticamente uma trilha, que leva ao Sertão dos Hortelãs e ao Sertão do Prata. Essas localidades estão situadas a 1120 msnm, e não são propriamente povoados: existem apenas algumas casas e propriedades dispersas. É o nome da região.
No início a estrada, apesar de estreita, é razoável. De terra, com cascalho e valetas, porém plana. Rios às suas margens e as grandes montanhas ao fundo dão-lhe uma beleza rústica. Já se vislumbra a montanha que deverá ser vencida para se alcançar o sertão dos Hortelãs.
                                           Mostrando o caminho a percorrer para subir a montanha

Após a travessia de um riacho, inicia-se a subida, tremendamente íngreme, com pedregulhos, valas, terra solta e muitas depressões e lajes de pedra.
Parei para fotografar na subida. Na hora de sair, a roda traseira da moto patinou e a moto andou de lado, caindo dentro de uma valeta na estrada. Havia muita terra e pedras soltas, e eu não conseguia sair da valeta. Pior: a cada tentativa, a roda simplesmente patinava e a moto andava de lado e recuava em direção a uma canaleta na lateral do leito da estrada. Parei de tentar sair dali sozinho, pois se eu caísse na tal canaleta, não teria mais como sair, isso sem contar com a possibilidade de um tombo, pois a inclinação da estrada e a moto atravessada não me permitiam colocar um dos pés no chão. Se eu inclinasse para aquele lado, cairíamos, eu a moto, e rolaríamos estrada abaixo! Assim, fiquei parado esperando que aparecesse alguém para me ajudar a sair daquela situação. Esperei 40 min, até que surgiram 2 motoqueiros, que me ajudaram a tirar a moto daquela posição. Posicionamos a moto corretamente na estrada e eu pude continuar a terrível subida.
                                            Ladeira íngreme

Ainda subi muito, e o caminho foi piorando. Se eu parasse ou perdesse velocidade, cairia ou não conseguiria ir adiante.
Imaginei se estivesse nos altiplanos bolivianos e me acontecesse algo parecido: sozinho, a mais de 4.000 msnm, com pouco oxigênio, temperatura de -10 °C, penhascos e a possibilidade de chuva ou neve. Se não houvesse um auxílio rápido, o final poderia não ser tão feliz...
                                           Vista durante a subida

Bem, voltando à minha pequena estrada, havia diversas motos trail subindo, e até algumas 125 cc, que se esforçavam e cheiravam a queimado devido à patinação da embreagem. Automóveis, só 4 x 4 mais rústicos, como Toyota Bandeirantes e Pick up, Jeep Willys e a linha VW a ar, ou seja, Fuscas, Brasílias e Variants. São valentes esses carrinhos. Todos sobem devagar, bem mais devagar que a moto, mas chegam!
Após atravessar um rio sem ponte e vencer uma laje de pedra bem inclinada, chegamos ao sertão dos Hortelãs, a mais de 1.100 m de altitude. Há no local uma capela, em cujo gramado havia muitas barracas armadas e bastante gente, tanto assistindo à missa como do lado de fora. Junto às barracas, diversas motos trail que venceram o desafio da subida e alguns Fuscas e Brasílias. O pessoal fazia um retiro durante o carnaval.
Travessia  de um riacho


                                           Sertão dos Hortelãs - igrejinha e acampamento

Motos no acampamento: melhor maneira de chegar!

Seguindo a estrada 5 km adiante, chega-se ao sertão do Prata, às margens do rio de mesmo nome. De um lado do rio está o estado do Rio de Janeiro, na outra margem é São Paulo. Conversando com um morador local, cujo pai mora na casa do outro lado do rio, ele disse que até as concessionárias de energia são diferentes: ele recebe luz da Light e o pai recebe da CESP, e as casas estão no mesmo terreno separadas apenas pelo rio, cerca de 20 metros!
E pagam IPTU para 2 estados!
                                           Sertão do Prata - rio da Prata, separando os estados RJ e SP 


Paisagem pouco usual no alto das montanhas
Retornando, a descida é bastante perigosa, pois devido à grande inclinação e à quantidade de cascalho, pedras e areia soltas, qualquer erro resultaria em um tombo e muitos ralados, isso se der sorte e a moto não cair por cima. Desci com a 1ª marcha engatada quase o tempo todo, e, ainda assim, se viesse um carro em sentido contrário eu não conseguiria frear e bateria nele. Somente em alguns trechos é possível 2 veículos se cruzarem.
Foram um total de 32 km em estrada de terra bem precária. Imaginei os 700 km na Bolívia, em condições climáticas bem piores!
Quando cheguei ao asfalto, em Pouso Seco, abri o gás e levei 30 min para chegar em Rio Claro.
Gostei do passeio! Exigiu muita atenção e pude treinar minhas habilidades no fora-de-estrada, coisa que, definitivamente, não é minha praia!
O visual é belo todo o tempo, e após chegar-se à altitude dos Hortelãs e do Prata, a paisagem é toda composta de árvores não muito comuns em nossa região: araucárias, pinheiros e ciprestes, além de resquícios da exuberante mata atlântica. Vale conhecer, mas é preciso disposição! 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Serra da Bocaina

Estou em Rio Claro e resolvi dar um treino mais real para a viagem à Bolívia.
Tomei a rodovia RJ 155 pela manhã, às 8:00 h do dia 16/2/2012, enquanto os primeiros raios de sol atravessavam as árvores às suas margens. A temperatura estava amena e o tempo aberto. Após a RJ 155, entrei na antiga estrada Rio – São Paulo, com destino a Bananal. A antiga Rio – São Paulo chama-se RJ 139 no estado do Rio de Janeiro e SP 68 (rodovia dos Tropeiros) no estado de São Paulo. Muitas curvas, asfalto em condições razoáveis, a viagem é um prazer, a Falcon deslizava pela pista.

Cheguei a Bananal, cidade histórica que por si só merece uma visita. É uma cidade que conheceu por duas vezes, em épocas distintas, a glória e a decadência, sendo uma vez no ciclo do café (chegou a ser o município mais rico do Brasil, o único com ferrovia própria) e outra vez nos anos 1940, quando a estrada Rio – São Paulo a cortava ao meio. Uma coisa marcante na cidade é a sua estação ferroviária, totalmente construída em chapas metálicas, importadas da Bélgica no século XIX, única no Brasil.
Como eu já conheço a cidade de outras visitas, não me detive: entrei na pequena rodovia SP 247, que sobe a imponente e bela Serra da Bocaina.

Inicialmente em asfalto, a estrada é bem estreita, porém sinalizada. Quando o asfalto acaba, torna-se uma mistura de restos de asfalto, buracos e algo que se assemelha ao rípio, pequenas pedras britadas espalhadas em sua superfície. A subida da serra, cerca de 10 km, é asfaltada, do contrário seria impossível vencer tamanha inclinação com curvas às vezes de 180 ° com um carro normal, sem tração nas 4 rodas. A subida é muito bonita, com a pequena estrada serpenteando entre as montanhas, e em seu topo atingimos a altitude de cerca de 1.100 msnm.


Aí a coisa fica feia: o asfalto acaba e a estrada transforma-se quase em uma trilha, com pedregulhos, buracos, pedras soltas, valas  e degraus, além de ficar ainda mais estreita. Um carro baixo não consegue passar por ali. Se chover, então, nem pensar. De moto, simulando o que enfrentarei na Bolívia, não conseguia passar dos 20 km/h. Andar a 30 km/h é um excesso de velocidade insano, certamente levará a um tombo. É claro que, fazendo trilha, com roupa e moto adequadas, anda-se um pouco mais, mas não era o meu caso, e eu queria sentir como será andar em estradas nessas condições com a moto carregada e a preocupação de não levar tombo algum, o que atrasaria a viagem, podendo até interrompê-la, se algo mais grave ocorrer comigo ou com a moto.

Cheguei até um micropovoado chamado Sertão da Bocaina, ou, simplesmente, Bocaina. A temperatura caiu e a paisagem mudou. Árvores floridas, muitas araucárias e vegetação típica de clima frio fizeram-me sentir em algum país temperado, como os da Europa. Segundo um morador, durante o inverno, temperaturas de zero graus Celsius ou inferiores são normais.
Há diversas pousadas e hotéis em um raio de 13 km em torno do povoado. Creio que é uma opção e uma aventura diferente passar um fim de semana em um desses estabelecimentos, principalmente se a viagem for feita de moto. Não há muito o que fazer, será apenas curtir a companhia e a natureza.
A volta foi pelo mesmo caminho, porém mais rápida, pois já havia curtido a natureza e o visual da serra na ida. Cheguei em Rio Claro às 13:00 h. Um passeio e tanto!
E um bom treino, pois não sou habituado a transitar por trilhas ou estradas de terra, muito menos em serras!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Nossas estradas

Sempre em meus relatos, tenho feitos críticas às rodovias brasileiras. Apesar de algumas rodovias concessionadas (falo das pertencentes à CCR) apresentarem um padrão razoável se comparadas ao que tenho visto nos países desenvolvidos, as demais são comparáveis e muitas vezes piores do que as estradas de países substancialmente mais atrasados e pobres que o Brasil. Somos comparáveis à África; apesar de não conhecer aquele continente, amigos e leituras sobre o assunto me dão esta convicção.

                                                    Falcon em Rio Claro


Duas coisas têm me incomodado bastante em nossas estradas: o número absurdo de caminhões e a quantidade de crescente de congestionamentos que ocorrem devido a obras e, principamente, acidentes.
Ontem, domingo, retornava de Rio Claro ao Rio de moto (Falcon), quando, cerca de 1 km antes de chegar à descida da serra das Araras, o trânsito parou completamente. Fui passando pelo corredor entre os carros e caminhões até chegar à causa da retenção: uma carreta transportando madeira laminada houvera tombado e espalhado sua carga, e uma retroescavadeira e um guincho ocupavam totalmente a pista, onde nem as motos podiam passar.                                                      Acidente na via Dutra, antes da descida da serra
Fiquei observando a operação da concessionária (Nova Dutra-CCR) para desvirar a carreta e retirar as placas de madeira da pista, o que levou meia hora. Consegui passar sob a lança do guindaste quando a pista ainda se encontrava interditada e segui viagem, tendo a Dutra somente para mim até o Rio de Janeiro, devido ao enorme represamento de veículos no local do acidente. Não havia nenhum carro à minha frente na serra e durante mais de 40 km. Somente na região da baixada fluminense, a partir de Nova Iguaçu, começaram a brotar carros dos diversos acessos. Fora o tempo parado no local do acidente, o restante da viagem foi como todos sonham: uma estrada vazia, e, consequentemente, muito mais segura e agradável.
Isto serve para ilustrar o drama por que passam os usuários de estradas em nosso país: além de ter que enfrentar a fúria, irresponsabilidade e selvageria dos caminhões, temos que conviver com engarrafamentos que consomem horas parado sob sol ou chuva, sem banheiro ou qualquer recurso. E geralmente os acidentes são causados pelos próprios caminhões.
Outro problelma é a grande quantidade de acessos às faixas centrais ou expressas das rodovias, o que as sobrecarrega sobremaneira e as torna mais perigosas. Só para exemplificar, na região das cidades da baixada fluminense, os moradores utilizam a via Dutra como uma avenida local, ingressando com veículos em baixa velocidade em uma via expressa, circulando com veículos em mau estado de conservação e dirigindo como se estivessem em seu bairro, isso sem contar os acessos irregulares, circulação de pedestres e ciclistas, animais na pista, presença de ambulantes e outras mazelas de terceiro mundo. Deveriam ser criadas pistas marginais para o tráfego local, com pouquíssimas ligações à via principal, para evitar acidentes e lentidão no trânsito. E olhe que estamos falando da rodovia Presidente Dutra, principal estrada do país e ligação entre as 2 cidades mais importantes, sem contar as ricas regiões que atravessa, como o vale do Paraíba. Fica o desafio para as autoridades (in)competentes resolverem!
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Tenho viajado constantemente com a Falcon para assegurar-me de que está realmente em condições de enfrentar o desafio de cruzar o Noroeste da Argentina e os altiplanos bolivianos. Vamos ver!