quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Visconde de Mauá ( ainda na pandemia)

O dia amanheceu com o céu totalmente azul e a previsão era de sol e muito calor, mas um aviso da frente fria que chegará amanhã me fez pensar em aproveitar este dia, que não poderia ser desperdiçado! Peguei a Sahara, amarrei sobre o bagageiro uma pequena bolsa com máquina fotográfica e alguns objetos pessoais e me joguei na estrada! Meu destino seria Visconde de Mauá, pequena vila situada na serra da Mantiqueira, conhecida por suas inúmeras cachoeiras e pelas baixas temperaturas (geralmente abaixo de zero graus) durante o inverno.

                                   Saída de Rio Claro


Percorri um trecho da RJ-155 até Barra Mansa e ingressei na Via Dutra, rodando até o acesso a Penedo, onde entrei na RJ-163, que passa por Penedo e leva a Visconde de Mauá.  O calor estava forte, mas o dia bonito compensava; a estrada é muito sinuosa, há que seguir com cuidado porque há curvas traiçoeiras e às vezes aparece também algum buraco ou defeito no pavimento.




Antes de subir a serra, na localidade de Capelinha, parei para beber algo e conheci o Heleno, que estava de Falcon. Ele já teve Sahara por mais de 8 anos, é um fã do modelo, e isso foi o suficiente para conversarmos por um bom tempo sobre motos e viagens. Um conhecido dele chegou de carro e entrou na conversa, que continuou animada, até  nos darmos conta que tínhamos que seguir cada qual o seu caminho! Trocamos contatos e seguimos, ele para Resende e eu em direção à serra que me levaria a Visconde de Mauá.

                                   Boa conversa em Capelinha

A serra é de grande beleza, e como o dia estava claro, podia-se avistar as cidades de Resende, Penedo e parte do vale do Paraíba. A subida é bastante íngreme e há muitos trechos estreitos devido a deslizamentos na estrada, que levaram o asfalto e a pista, mas, de maneira geral, o asfalto está em condições razoáveis e o passeio vale muito a pena. Após o ponto mais alto (1.300 msnm), inicia-se a descida, também com inclinação bastante acentuada, que termina em Visconde de Mauá.

                                    Mirante na estrada, na subida da serra




Museu das Duas Rodas

A vila de Visconde de Mauá não apresenta muitos atrativos, então segui em direção a Maringá e entrei em uma estrada de terra que me levaria ao Museu das Duas Rodas. Foram pouco mais de 4 km com pedras, valetas e terra solta, e surpreendi-me com o desempenho e a facilidade de conduzir a Sahara em tal trecho, ela estava "em casa"! O museu das Duas Rodas estava fechado, mas o proprietário (Robson) chegou e o abriu especialmente para mim. Já é a 5a vez que o visito, e desta vez obtive valiosas informações e explicações do proprietário sobre modelos raros, como a Wanderer 1912 e a Sparta (moto holandesa). Durante a visita eu ia perguntando e aprendendo mais sobre motos, ciclomotores e bicicletas de todas as épocas, um acervo particular de valor inestimável.

                                            Estacionado no museu
                                  Wanderer 1912
                                  Harley Davidson pré 2a guerra
                                  Norton
                                  Zündapp com motor boxer, anos 50
                                  Jawa Perak
                                   BSA preparada para competição
                                    Triumph Bonneville  
                                   Ducati 160 cc, com motor desmodrômico
                                  Velha conhecida nossa: Yamaha TX 500
      Essas dispensam apresentações ou comentários - uma CG como esta foi minha primeira moto


O que sempre me fez gostar desse museu é o fato de haver muitos modelos europeus, desconhecidos da grande maioria dos brasileiros da minha geração e das posteriores. Geralmente se vê em museus no Brasil muitas motos japonesas e algumas americanas, mas a quantidade de modelos europeus pré e pós 2a guerra que o Museu abriga é respeitável! Marcas e modelos que fizeram a história do motociclismo, como BSA, Norton, Triumph, NSU, DKW (o maior fabricante mundial até a 2a guerra), Jawa, Ducati, Zündapp, Sachs e muitas outras, estão todas lá, com explicações sobre o modelo, a motorização, o país de origem e outras informações. Há também, obviamente, modelos japoneses, americanos e até brasileiros.

Almoço e retorno

Ao sair do museu, percorri de volta os 4 km de terra e, ao chegar ao asfalto, tomei a direção de Maringá, outra pequena vila, porém agitada, movimentada e mais bem transada que Visconde de Mauá. Estacionei a moto e almocei uma truta em um restaurante no coração da vila.


Eu pretendia voltar por outro caminho, mas haveria um trecho de 40 km de terra, sem asfalto, o que atrasaria minha chegada de volta a Rio Claro, onde eu queria chegar ainda com dia claro. Este outro caminho, que passa por Bocaina de Minas, Liberdade e Bom Jardim ficará para outra vez.

Desci a serra e parei na cantina Ovomaltine, já na Dutra. De lá, a próxima parada  foi em Rio Claro, onde cheguei às 16 h.

Foi um passeio bacana e agradável, mas cheguei bem cansado em casa, apesar de terem sido apenas 240 km rodados. O forte calor, a serra sinuosa, as estradas de terra e a própria pilotagem da moto me cansaram. A Sahara foi muito bem e surpreendeu-me, tanto no trecho de velocidade da Dutra como nos trechos sinuosos e em serra. Fico impressionado como uma moto fabricada há 28 anos é ainda nos dias de hoje tão boa e confiável. Como não me apaixonar por ela?

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Alto Caparaó

Já que a pandemia não acaba, o jeito é ir improvisando viagens dentro do Brasil para ajudar a passar o tempo e para não perder o contato com as motos. Confesso que não gosto nem um pouco de viajar por esse nosso país,  mas enquanto durar toda essa onda de Covid 19, o exterior é inviável para nós, até mesmo porque nem os países vizinhos nos querem por lá!




Assim, foi programada juntamente com amigos, uma viagem a Alto Caparaó, povoado onde se situa uma das entradas do parque nacional de mesmo nome, sendo o pico da Bandeira, 3º ponto mais alto do país, a maior atração do local. A viagem será com um total de 8 motos. Também não é algo que eu goste, mas vamos no que dá, afinal, viajar de moto é uma coisa que já está fazendo falta! Sempre que há um grande grupo, até um simples pedido de almoço em um restaurante se transforma em confusão e a perda de tempo em qualquer parada é enorme.

Participantes:

Sylvio - Boulevard 800

Galvão - Boulevard 800

Marcos "Talhadeira" - HD Dyna

Marcelo - Shadow 750

Hélcio - BMW GS 800

Alcyr - HD V-Rod

Marcinho - Kawasaki Vulcan 650

GE - Triumph Tiger Explorer 1200

As motos possuem características bem diferentes, assim como o nível de habilidade e de intimidade dos pilotos com longas jornadas também varia bastante. Mas vamos à viagem!

A viagem foi programada para 4 dias, de 9 a 12 de outubro, aproveitando o feriado nacional de 12 de outubro, sendo dois dias de deslocamento.

Na véspera da partida (quinta-feira, 8 de outubro), abasteci a Triumph Explorer, calibrei os pneus, instalei o GPS e coloquei sobre ela toda a bagagem, inclusive parte dentro do baú. No dia seguinte pela manhã, a moto não ligou de maneira alguma, o sintoma era de bateria descarregada. Tentei, mas não consegui. Houvera combinado com os demais um encontro em Além Paraíba às 10 h, e eu levaria de 3,5 h a 4 h para ir de Rio Claro até lá. Já eram 7 h e nada da Triumph funcionar. Não houve dúvidas: abri a garagem novamente, retirei a Bonneville, passei parte da bagagem para ela e parti para a aventura com uma moto deliciosa, porém não muito adequada para o tipo de viagem que faríamos.

Passei por Volta Redonda e ingressei na BR-393, a qual percorreria até Além Paraíba, um percurso sinuoso e com traçado horrível; para piorar, estava cheia de caminhões e há poucos pontos para uma ultrapassagem segura. Abasteci no posto Xalé, em Barra do Piraí, e conheci um motociclista com uma Virago 535 que se dirigia a Juiz de Fora. Seguimos juntos até Três Rios. Após nos separarmos, continuei sozinho pela BR-393, atravessei o povoado de Anta e a cidade de Sapucaia ( um horror - deveria haver um contorno da cidade) e acabei chegando em Além Paraíba às 10:40 h, 40 min após o combinado. Todos me aguardavam, com exceção do Marcelo, que iria no dia seguinte. Tomamos água, acertamos alguns detalhes e seguimos pela BR-116 (Rio-Bahia) até um pouco depois de Muriaé, onde almoçamos no "Linguiça no pão", uma boa sugestão do Alcyr.  

                                  Encontro e abastecimento em Além Paraíba
                                    Parada para o almoço

Na estrada novamente, entramos em estadas estaduais de MG, todas sinuosas, com muitos buracos, asfalto defeituoso e sinalização deficiente. O visual ao redor até era interessante, mas não era possível apreciar, tínhamos que manter a atenção e os olhos na pista, para evitar cair em algum buraco que poderia causar um acidente sério. À medida que nos aproximávamos de Alto Caparaó, a estrada ficava mais estreita e mais esburacada. Isso é viajar pelo Brasil! Emoção em cada curva!


   A partir da esquerda: Talhadeira, Galvão, GE, Alcyr, Sylvio, Marcinho e Hélcio


Alto Caparaó é uma cidade encravada nas montanhas e uma das entradas do Parque Nacional do Caparaó, onde fica o pico da Bandeira. Nosso hotel era bem legal (creio que o melhor da cidade), o que nos ajudou quando o tempo fechou e a chuva e o frio chegaram. Neste dia à noite tomamos muito vinho e jantamos pizzas também acompanhadas de vinho e muita conversa, um ótimo fechamento de um dia sobre motos na estrada.



No sábado, 10 de outubro, fizemos um passeio em um 4x4 até uma cachoeira chamada  Poço do Egito, onde apenas Marcinho, Galvão e Talhadeira tiveram coragem de tomar banho. Fomos também conhecer uma fazenda onde se produz um café premium, de alta pureza e qualidade, premiado como um dos melhores do mundo, aproveitei e comprei 3 tipos de cafés a peso de ouro! Almoçamos no povoado. Marcelo chegou à noite e fomos jantar em um restaurante bacana, obviamente tomando vinhos escolhidos pelo Talhadeira.







                                             Igreja Matriz de Alto Caparaó


O domingo, 11 de outubro, foi chuvoso e frio, o que nos impediu de fazermos o passeio programado. Pela manhã fui a pé até a entrada do parque do Caparaó, onde se inicia a subida para o pico da Bandeira. O parque só abre de segunda a sexta-feira, ou seja é para espantar turistas! Coisas do Brasil! Fiquei sabendo que amanhã, segunda-feira, não abrirá, porque é um feriado!!!! Pode isso? É Brasil! Só nos restou passar a manhã tomando vinho e passar a tarde na piscina aquecida do hotel. Não foi um programa tão ruim! À noite, sob rigorosos 11 graus de temperatura, comemos pizzas com mais vinho.

                                   Portaria do parque, sob espessa neblina e 13 graus de temperatura

                                   Vinhos no hotel



Segunda-feira, 12 de outubro: hora de voltar. Tomamos o café da manhã no hotel, fechamos a conta e iniciamos a longa viagem de volta, exatamente pelo mesmo caminho da ida, coisa que não gosto de fazer. Almoçamos no mesmo "Linguiça no pão" da ida e fomos todos juntos até Além Paraíba, onde nos separamos. Eu segui pela BR-393 em direção a Volta Redonda e o restante do grupo pela BR-116 até o Rio de Janeiro. O destaque ficou por conta do Marcelo, que resolveu acelerar e chegou a puxar o "bonde" com velocidades em torno dos 120/130 km/h!

                                   Preparando para a partida de retorno



No posto Xalé, às margens da BR-393, em Barra do Piraí, conheci um grupo de motociclistas da cidade e trocamos contatos, pensando em programar algum passeio de fim de semana pela região. Após Volta Redonda anoiteceu e encarei o pior trecho de toda a viagem, em uma estrada estreita, sem sinalização horizontal e entupida de carros que retornavam de Angra dos Reis por conta do feriadão. Já não enxergo à noite, imaginem com faróis na cara, pista sem sinalização, buracos e asfalto (quando existia) defeituoso. Fui muito devagar e com muito cuidado; consegui chegar em casa ileso, porém bastante cansado da tensão dos últimos quilômetros.

Foi uma viagem muito agradável, apesar de longa, pois foram 10 horas na ida e 10 horas na volta. Surpreendi-me com a harmonia e o bom clima que rolaram entre nós, pois viajar com 8 motos (e seus respectivos pilotos) não é fácil. Só tenho a agradecer aos colegas que participaram desta pequena aventura e esperar pelos próximos eventos!

Sylvio, Talhadeira, Galvão, Alcyr, Marcinho, Hélcio e Marcelo, valeu!! Até breve, na estrada!