sábado, 27 de abril de 2013

Uyuni




Acordei com o sol entrando pela minha janela no hotel, e sob um peso de cobertores que me impedia os movimentos, até virar na cama era difícil. Pudera, com o frio de Potosi, não dá para usar cobertas leves.
Dei uma caminhada pela cidade ladeira acima com o ar frio queimando todo o sistema respiratório ao ser inalado. Andei por  40 minutos e retornei ao hotel para arrumar minha bagagem. Saí do hotel às 10:30 h, com a mochila nas costas, o casaco no corpo e a maleta na mão. Andei 2 quadras e meia até o ponto de ônibus e embarquei para o velho terminal rodoviário, chamado de ex-terminal. Me senti um cidadão potosino, espremido dentro de um micro ônibus pelas ruas estreitas da cidade e cercado de cholas e suas crianças com roupas indígenas coloridas.
Cheguei cedo ao terminal, e só me restava esperar. Fui ao banheiro. Paga-se 1Bs. Recebe-se um pedaço de papel e um balde. Após as necessidades satisfeitas, há que se pegar água em um latão com o balde e jogar no vaso. Ainda bem que fiz somente o “número 1”! Estamos na rodoviária de uma cidade turística, considerada patrimônio da humanidade pela UNESCO. Isto é normal nas estradas bolivianas, mas na rodoviária de Potosi, é chocante!
Quando meu ônibus encostou na plataforma, outra surpresa: era um ônibus enorme e alto, porém com chassis e rodas de micro-ônibus (608D). Uma aberração: aquela carroceria enorme com uma bitola mínima, as rodas “lá dentro” e ridiculamente pequenas para o tamanho do ônibus. O motorista disse que o chassis foi alongado, outra aberração, a impressão que se tem ao olhar o ônibus de lado é que ele vai “selar”, curvar-se no meio. Torci para que esta geringonça conseguisse vencer o percurso com dignidade,  fazendo as inúmeras curvas do caminho, a mais de 4.000 m de altitude. Fui olhar os pneus com medo, mas os dianteiros não estavam carecas! Os traseiros apresentavam acentuada queda de cabelo, mas ainda não ficaram totalmente carecas!
 
                                         Parada na estrada, onde tomei sopa com couro de boi

A viagem foi outra surpresa: o motorista era muito tranquilo e sabia das limitações do ônibus, e o conduziu com segurança ao longo de todo o percurso, que durou exatas 4 horas, o tempo previsto. Quando passávamos rente aos precipícios, vinha a apreensão, mas correu tudo muito bem. A estrada é ideal para ser percorrida de moto: muitas curvas, paisagens radicais e um asfalto de boa qualidade, sempre subindo e descendo em grandes altitudes. Eu gostaria de poder parar para fotografar em diversos pontos.
O ônibus parou por 10 min em uma birosca na beira da estrada. Para usar o que chamavam de banheiro pagava-se 1 Bs, e também tinha que jogar um balde de água, mas o interessante é que o vaso sanitário ficava em um ambiente sem teto e sem porta, fora da casa. Como já eram 14:00 h e só havia tomado um parco café da manhã às 7:30 h, encarei a única coisa que havia para comer: uma sopa, que custava o equivalente a R$ 1,50. Tinha uns legumes e algumas coisas estranhas dentro, mas o que me chamou a atenção foi que havia uma tira de couro de boi boiando. Deixei o couro de lado e tomei a sopa, que foi o meu almoço! Só mais 2 passageiros tiveram a mesma coragem. Os estrangeiros torceram o nariz e saíram de perto!






Eu não sabia o que esperar de Uyuni, e no primeiro contato com a cidade deu para notar que não tinha nada em comum com Sucre e Potosi. Cada cidade é diferente da outra, e Uyuni é diferente de todas, lembra um pouco San Pedro de Atacama, porém piorada. Muitos hotéis, muitas agências de turismo, restaurantes, cafés e algumas lan houses. Também muitos estrangeiros,  vi vários brasileiros, facilmente reconhecíveis por utilizarem camisas da seleção brasileira de futebol e pela algazarra que fazem onde passam, falando alto e subindo em monumentos para tirar fotos do tipo “mamãe, olha eu aqui!”.
Dei uma pequena caminhada nas redondezas do hotel onde me hospedei e já contratei um pacote que inclui um passeio pelo salar de Uyuni, entre outras atrações, por um dia inteiro. Eu gostaria de fazer o passeio de 3 ou 4 dias, mas depois de amanhã  já devo estar retornando a Santa Cruz de la Sierra, de onde pegarei meu vôo de volta ao Brasil.
Gostei da cidade, apesar de não ter nada a ver com Sucre ou Potosi, mas tem suas coisas interessantes. Pena que não poderei desfrutá-la mais, devido ao dia a mais que tive que passar em Sucre devido ao bloqueio das estradas.
Às 19:00 h saí do hotel para jantar e dar mais uma olhada na cidade, mas não foi tão fácil: a temperatura era de 8 ºC, e disseram que cai ainda mais à medida em que a noite avança. A altitude é 3.650 m, menor do que a de Potosi, mas ainda assim bastante expressiva, o que explica o frio. E eu não trouxe luvas nem gorro!
Recolhi-me ao hotel cedo, era impossível andar pelas ruas.

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