Acordei com
o sol entrando pela minha janela no hotel, e sob um peso de cobertores que me
impedia os movimentos, até virar na cama era difícil. Pudera, com o frio de
Potosi, não dá para usar cobertas leves.
Dei uma
caminhada pela cidade ladeira acima com o ar frio queimando todo o sistema
respiratório ao ser inalado. Andei por
40 minutos e retornei ao hotel para arrumar minha bagagem. Saí do hotel
às 10:30 h, com a mochila nas costas, o casaco no corpo e a maleta na mão.
Andei 2 quadras e meia até o ponto de ônibus e embarquei para o velho terminal
rodoviário, chamado de ex-terminal. Me senti um cidadão potosino, espremido
dentro de um micro ônibus pelas ruas estreitas da cidade e cercado de cholas e
suas crianças com roupas indígenas coloridas.
Cheguei cedo
ao terminal, e só me restava esperar. Fui ao banheiro. Paga-se 1Bs. Recebe-se
um pedaço de papel e um balde. Após as necessidades satisfeitas, há que se
pegar água em um latão com o balde e jogar no vaso. Ainda bem que fiz somente o
“número 1”! Estamos na rodoviária de uma cidade turística, considerada
patrimônio da humanidade pela UNESCO. Isto é normal nas estradas bolivianas,
mas na rodoviária de Potosi, é chocante!
Quando meu
ônibus encostou na plataforma, outra surpresa: era um ônibus enorme e alto,
porém com chassis e rodas de micro-ônibus (608D). Uma aberração: aquela
carroceria enorme com uma bitola mínima, as rodas “lá dentro” e ridiculamente
pequenas para o tamanho do ônibus. O motorista disse que o chassis foi
alongado, outra aberração, a impressão que se tem ao olhar o ônibus de lado é
que ele vai “selar”, curvar-se no meio. Torci para que esta geringonça
conseguisse vencer o percurso com dignidade, fazendo as inúmeras curvas do caminho, a mais
de 4.000 m de altitude. Fui olhar os pneus com medo, mas os dianteiros não
estavam carecas! Os traseiros apresentavam acentuada queda de cabelo, mas ainda
não ficaram totalmente carecas!
Parada na estrada, onde tomei sopa com couro de boi
A viagem foi
outra surpresa: o motorista era muito tranquilo e sabia das limitações do
ônibus, e o conduziu com segurança ao longo de todo o percurso, que durou
exatas 4 horas, o tempo previsto. Quando passávamos rente aos precipícios,
vinha a apreensão, mas correu tudo muito bem. A estrada é ideal para ser
percorrida de moto: muitas curvas, paisagens radicais e um asfalto de boa
qualidade, sempre subindo e descendo em grandes altitudes. Eu gostaria de poder
parar para fotografar em diversos pontos.
O ônibus
parou por 10 min em uma birosca na beira da estrada. Para usar o que chamavam
de banheiro pagava-se 1 Bs, e também tinha que jogar um balde de água, mas o
interessante é que o vaso sanitário ficava em um ambiente sem teto e sem porta,
fora da casa. Como já eram 14:00 h e só havia tomado um parco café da manhã às
7:30 h, encarei a única coisa que havia para comer: uma sopa, que custava o
equivalente a R$ 1,50. Tinha uns legumes e algumas coisas estranhas dentro, mas
o que me chamou a atenção foi que havia uma tira de couro de boi boiando.
Deixei o couro de lado e tomei a sopa, que foi o meu almoço! Só mais 2
passageiros tiveram a mesma coragem. Os estrangeiros torceram o nariz e saíram
de perto!
Eu não sabia
o que esperar de Uyuni, e no primeiro contato com a cidade deu para notar que
não tinha nada em comum com Sucre e Potosi. Cada cidade é diferente da outra, e
Uyuni é diferente de todas, lembra um pouco San Pedro de Atacama, porém
piorada. Muitos hotéis, muitas agências de turismo, restaurantes, cafés e algumas
lan houses. Também muitos estrangeiros, vi vários brasileiros, facilmente reconhecíveis
por utilizarem camisas da seleção brasileira de futebol e pela algazarra que
fazem onde passam, falando alto e subindo em monumentos para tirar fotos do
tipo “mamãe, olha eu aqui!”.
Dei uma
pequena caminhada nas redondezas do hotel onde me hospedei e já contratei um
pacote que inclui um passeio pelo salar de Uyuni, entre outras atrações, por um
dia inteiro. Eu gostaria de fazer o passeio de 3 ou 4 dias, mas depois de
amanhã já devo estar retornando a Santa
Cruz de la Sierra, de onde pegarei meu vôo de volta ao Brasil.
Gostei da
cidade, apesar de não ter nada a ver com Sucre ou Potosi, mas tem suas coisas
interessantes. Pena que não poderei desfrutá-la mais, devido ao dia a mais que tive
que passar em Sucre devido ao bloqueio das estradas.
Às 19:00 h
saí do hotel para jantar e dar mais uma olhada na cidade, mas não foi tão fácil:
a temperatura era de 8 ºC, e disseram que cai ainda mais à medida em que a
noite avança. A altitude é 3.650 m, menor do que a de Potosi, mas ainda assim
bastante expressiva, o que explica o frio. E eu não trouxe luvas nem gorro!
Recolhi-me
ao hotel cedo, era impossível andar pelas ruas.
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