Dia 38 – 17 de abril de 2020 – sexta-feira
Saí cedo de Curitiba, com temperatura de 7,5 graus! Cheguei
ao anel rodoviário (contorno de Curitiba) e continuei até o início da Régis
Bittencourt, que leva a São Paulo; fiz a primeira parada no Túlio, a 60 km de
Curitiba, para abastecer e tomar um café, pois o frio estava castigando. Segui
em boa velocidade, a viagem estava rendendo bem, até que, um pouco antes da
descida da serra do Azeite, um acidente com tombamento e incêndio de um
caminhão interditou totalmente a pista por uma hora e meia, pois foi necessário
debelar o incêndio e remover pedaços do caminhão que se espalharam e também
incendiaram. Fui andando pelo acostamento no meio das imensas filas de veículos
e cheguei ao ponto do acidente. Enquanto aguardava apagarem o incêndio, conheci
um senhor que viajava em uma Royal Enfield e ficamos conversando. Quando o carro
de bombeiros da concessionária saiu, fui o primeiro a passar, e, aproveitando
as pistas vazias pelo represamento de veículos, toquei em velocidade alta por
mais de 100 km, até o Graal Petropen, na altura de Registro, eu precisava
compensar o atraso causado pela interdição da pista. A estrada era minha!
Fiz um lanche rápido no Graal, e quando estava saindo,
chegou o senhor da Royal Enfield apavorado: havia abastecido e esquecido sua
mochila no posto, 2 km atrás. Iria voltar para tentar recuperá-la, e, caso não
conseguisse, não teria sequer como pagar os pedágios até São Paulo, seu
destino. Dei-lhe R$20,00 e segui em frente, enquanto ele entrou em um retorno.
Andei muito bem, parei para almoçar no posto onde às vezes
pernoito, em Juquitiba, após subir a Serra do Cafezal. Fiquei sabendo que todos
os hotéis da região estavam fechados, e a ordem era que os restaurantes só
atendessem aos caminhoneiros, mas consegui almoçar.
No último pedágio da Régis Bittencourt, quando fui parar na
cabine, a manete do freio dianteiro foi até o final; bombeei, mas não adiantou,
estava sem o freio dianteiro e acabei batendo na traseira de uma moto que
estava parada pagando o pedágio. Não houve nada mais sério que um susto, mas eu
estava sem freio e assim segui viagem. Não iria parar para consertar, eu queria
chegar em Rio Claro ou adiantar ao máximo a viagem no dia de hoje e ainda
faltavam mais de 500 km para o destino.
Com cuidado devido ao freio, percorri o Rodoanel e entrei na
Carvalho Pinto, onde só fui parar no Graal Market, na altura de Guararema, para
abastecer e tomar mais um café. Ao final da Carvalho Pinto entrei na Dutra, que
apresentava movimento bem menor que o normal, o que me permitiu andar bem e
ganhar tempo. Todos os hotéis estavam fechados, tentei em Taubaté, Aparecida e
Guaratinguetá, mas não havia hotéis abertos, nem dentro das cidades.
O jeito era tentar chegar a Rio Claro. Andei em ritmo forte
até Floriano, onde parei na cantina Ovomaltine. Eram 18:00 h, em pouco mais de
uma hora eu chegaria a Rio Claro, mas não quis percorrer o pequeno trecho à
noite, pois já estava cansado e a entrada do sítio apresenta risco de tombo
para a moto pesada, principalmente à noite. O restaurante possui quartos no andar
superior para viajantes; aluguei um quarto simples, porém limpo, para passar a
noite. Trouxeram-me o jantar no quarto em uma embalagem descartável, pois o
bar/restaurante teria que fechar. Tomei um banho quente e reconfortante e
dormi.
Dia 39 – 18 de abril de 2020 – sábado
Em cerca de uma hora cheguei em Rio Claro, após ter saído da
cantina Ovomaltine às 6:30 h, depois de uma boa noite de sono. Estradas vazias
e uma viagem serena, bem tranquila.
Passei o dia todo cuidando das coisas que são feitas após
uma longa viagem de moto: descarregar e desarrumar a bagagem, lavar as roupas,
guardar coisas, lavar a moto e os baús e também fazer compras para mim e para a
casa, pois, afinal, estamos em quarentena!
Esta foi uma viagem de surpresas e descobertas, em todos os
sentidos. O que poderia ser uma horrível experiência, o fato de ficar confinado
em uma casa estranha em outro país por 25 dias acabou sendo um período de
reflexões, descobertas e reposicionamento diante da vida. Durante a viagem
propriamente dita, houve momentos muito tensos e difíceis, mas todos foram
superados, sempre houve alguém que entendia a dificuldade pela qual eu passava e
tentava amenizar o sofrimento. Sou grato a todos, sejam policiais, frentistas,
empregados de lojas e pessoas comuns, que deram sua contribuição para que as
coisas não fossem piores.
E agora? É esperar que tudo volte ao normal, que o Covid-19
seja debelado e eliminado, para que eu possa voltar à estrada! Ah, e terminar esta
viagem ao Atacama Norte, pois a atual foi interrompida em Susques, com o
fechamento das fronteiras da Argentina.
Até breve!