Viagem a Cristalina e Alto Paraíso (Chapada dos Veadeiros)
18/02/2021 a 27/02/2021 - 10 dias
Moto: Honda NX 350 Sahara 1992
Guilherme Edel
Primeiro dia
- 18/02/2021 – quinta-feira – Rio Claro a Jaú
Saí de Rio
Claro com a Sahara às 6:30 h e cheguei em Jaú às 16:15 h. Na parada para tomar
café em Aparecida, notei que o retentor do acionador da embreagem havia “estourado”,
e a moto estava jogando bastante óleo fora, lambuzando o chassi, a lateral,
minha bota e até a bagagem sobre o banco. Verifiquei o nível do óleo e segui em
frente.
Vazamento de óleo pelo retentor do acionador da embreagem
Não
ultrapassei os 90 km/h, que foram a minha velocidade de cruzeiro em toda esta
viagem. Mesmo assim, a moto fez apenas 15 km/litro em todos os abastecimentos.
Como a bagagem ocupava parte do banco, fiquei desconfortável. A moto é pouco
potente (eu já sabia) comparada às minhas outras, mas é uma experiência
interessante viajar com uma moto de porte menor e pouco potente. Eu só gostaria
que fosse mais econômica!
Tempo bom,
foi um bom dia de viagem, rodei 600 km até Jaú.
Ao
estacionar no hotel, o pedal de marchas soltou-se do eixo; eu não tinha a chave
8 mm para recolocá-lo e apertá-lo. Eram 18:20 h, a solução foi soldar o pedal
ao eixo em uma oficina de reparo de tratores, a única aberta a esta hora. A
solda foi feita em cima do pedal sujo de óleo, creio que acabará se soltando,
mas é o que deu para fazer. Foi muita correria para achar a oficina e consertar!
Segundo dia –
19/02/2021 – sexta-feira - Jaú a Uberlândia
Tive
dificuldades para encontrar um posto de gasolina na saída de Jaú, rodei
bastante e quase fiquei sem combustível. Em função deste atraso, saí do hotel
às 6:30 h, mas só peguei a estrada às 7:10 h. A viagem foi tranquila com
estrada excelente até o ponto de encontro com o grupo da WMT em Ribeirão Preto.
Todos
estavam com motos grandes, a maioria BMW GS 1200; tomei café e parti na frente,
em ritmo tranquilo, em torno dos 90 km/h.
Parei para
almoçar e segui logo em frente, eles me alcançaram a 20 km de Uberlândia e me
deixaram para trás. Tive que chegar ao hotel perguntando, Uberlândia é uma
cidade grande. A 1500 m do hotel, a solda do pedal de marchas soltou-se. Apenas
com a 1ª marcha engatada, consegui chegar ao hotel, com o motor “gritando” e a
moto a 20 km/h em meio ao trânsito.
Oficina em Uberlândia
Tirei a
bagagem e saí para tentar encontrar alguma oficina ou tornearia que refizesse a
solda, mas acabei levando a moto a uma oficina de motos mesmo. Fiquei mais de 3
horas na oficina, o mecânico teve muito boa vontade e fez uma adaptação a
partir de um pedal de Agrale que parece que vai funcionar, não sei por quanto
tempo! Retornei ao hotel às 19:40 h, já à noite.
Tomei banho
e comi pizza com alguns membros do grupo (Andrey, Anselmo, Renato e Marco).
Ficamos conversando no restaurante do hotel antes de nos recolhermos para
dormir.
Terceiro dia
– 20/02/2021 – sábado – Uberlândia a Cristalina
Combinamos
sair de Uberlândia às 10 h. Às 9 h o sol estava forte e o céu totalmente azul.
Improvisei um “retentor” para o eixo acionador da embreagem com fios de linha
retirados de um pano de chão e completei o nível do óleo.
Parti um
pouco antes do grupo, atravessei a cidade, cheguei à BR-050 e segui no meu
ritmo, para não forçar a Sahara. Já no estado de Goiás, parei para abastecer e
comer um sanduíche em Catalão, no posto JK, e voltei à estrada. Um pouco
adiante o grupo me alcançou e paramos para almoçar.
Novamente,
saí na frente para não atrasar o grupo, que me ultrapassou e me aguardou após
um pedágio a 50 km de Cristalina. Tentei andar junto com a turma, mas era
impossível. Havíamos passado por uma placa que anunciava o próximo posto a 110
km. Minha moto entrou na reserva e vi que a gasolina restante no tanque não
chegaria a Cristalina, e não havia postos. Fiz um retorno para abastecer em um
posto na outra pista da estrada, e o Marcelo me acompanhou, escoltando-me.
Havia somente 0,8 litros no tanque, eu andaria no máximo mais 10 km! Chegamos
ao hotel em Cristalina pouco após a chegada do grupo.
Vanda e Marco, da WMT e Andrey
A convite,
fomos visitar um motoclube vizinho ao hotel. Retornando ao hotel, ficamos
conversando na área do estacionamento e conhecemos o Niwton, que viajava em uma
XT 660R e acabou hospedando-se.
Jantamos no
próprio hotel e fomos tomar café na loja de conveniências do posto vizinho (posto
JK – é uma rede).
O pedal de
marchas ficou bom, não houve mais problemas com ele, vim muito bem até aqui; a
linha colocada no eixo que aciona a embreagem diminuiu consideravelmente o
vazamento de óleo. A Sahara, após ter deixado a fábrica há 29 anos, ainda está
vencendo as estradas!
Quarto dia –
21/02/2021 – domingo – Cristalina
Passeio a
uma mina de cristais e à Cachoeira do Arrojado, em um micro-ônibus. A chuva
chegou quando estávamos na cachoeira.
Retornamos
ao hotel para trocar de roupa e saímos novamente, para almoçar e andar pelo
centro de Cristalina. Quase tudo estava fechado, por ser um domingo. Na volta
para o hotel, paramos para comer pamonha em um local simples.
Conheci o
Cícero, de Volta Redonda (olhe a coincidência!) que viajava em um motor-home,
conversamos bastante sobre a possibilidade de fazermos algumas viagens de moto
juntos, quem sabe uma até o Alaska? Manteremos contato.
Quinto dia –
22/02/2021 – segunda-feira – Cristalina
Passeio ao Balneário
das Lajes. Ficamos lá até as 14 h, tomando banho em cachoeiras, rios e poços. O
local não tem estrutura para alimentação, mas foi agradável. A título de almoço
comemos biscoitos e algumas porções de petiscos.
Sexto dia –
23/02/2021 – terça-feira – Cristalina a Alto Paraíso de Goiás
O grupo
partiu de volta com destino a Uberaba. Eu parti em direção a Alto Paraíso, na
Chapada dos Veadeiros, sozinho, como gosto de andar.
No primeiro
trecho rodei 138 km sem encontrar sequer um posto de abastecimento, o que só
foi ocorrer em Planaltina, próximo a Brasília. Viajei por uma estrada estadual
(em bom estado) para cruzar o DF sem precisar passar por dentro de Brasília.
Na estrada (GO-118)
Pousada em Alto Paraíso
Atravessei o
DF e ingressei na GO-118. Abasteci e almocei em São João da Aliança. A partir
daí peguei 3 fortes pancadas de chuva na estrada, mas mantive o meu ritmo. A
Sahara foi muito bem, com o vazamento de óleo bem diminuído e o pedal de
marchas funcionando perfeitamente. É bom andar no ritmo que eu mesmo determino,
sem ter que me importar em acompanhar ou chegar junto com as motos maiores.
Cheguei cedo
em Alto Paraíso. Hospedei-me, tomei banho e a chuva chegou impiedosa. Aguardei
uma estiagem e saí para tentar resolver o problema do meu celular, que não está
carregando. Tomei sorvete, comprei pães e queijo e soube que o problema não é
do carregador, mas sim do próprio telefone. E agora?
A chuva
forte me pegou em cheio na cidade, longe da pousada. Aguardei por 1 hora por
uma estiagem. Quando diminuiu um pouco, segui a passos rápidos para a pousada,
mas a chuva aumentou novamente e cheguei totalmente encharcado: tênis, meias,
bermuda e camiseta! E eu só trouxe 1 par de tênis e 1 bermuda!
Enxuguei-me,
fiz e comi um sanduíche e fiquei confinado e fazendo hora em um quarto de 9 m², que não tinha sequer uma mesa, até a hora de dormir, uma vez que a chuva não permitia
sair. Para piorar, a TV só pega um canal, o Canção Nova! E o celular não
funciona!
Só me restou
aguardar a passagem das horas até o sono chegar, em silêncio e sem qualquer distração!
Sétimo dia –
24/02/2021 – quarta-feira – Alto Paraíso – São Jorge – Chapada dos Veadeiros
Manhã chuvosa,
sem possibilidades de qualquer passeio, era impossível até sair à rua. Às 10 h,
aluguei o carro da proprietária da pousada. Passei em uma padaria, comprei um
lanche para viagem e fui para São Jorge, distante 42 km de Alto Paraíso, onde
se situa a entrada do Parque Nacional das Chapada dos Veadeiros. São Jorge é tipo
uma Visconde de Mauá piorada, com ruas lamacentas, cheia de gente alternativa e
um astral diferente. A chuva parou logo que saí de Alto Paraíso e o sol
apareceu entre nuvens, fazendo calor.
Chegando em
São Jorge, dirigi-me ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Eram 11:55 h
e a entrada era permitida somente até as 12 h. Fui a última pessoa a estacionar
e a entrar.
Assiste-se a
uma pequena apresentação e a um vídeo de 3 min sobre o parque e parte-se para
as trilhas, sem guias. Escolhi a trilha dos saltos, das corredeiras e do
carrossel, de 11,8 km.
Foi uma
trilha puxada, pois não era plana, havia muitas subidas e descidas e caminhava-se
em meio a pedras e, para dificultar, durante alguns quilômetros com uma camada
de água na trilha. Nos últimos quilômetros eu estava exausto de tanto andar para
cima e para baixo entre pedras. A trilha valeu, as quedas d’água são incríveis
(uma de 80 m e outra de 120 m de altura), o “carrossel” é um redemoinho
impressionante e as corredeiras, além de belas, rendem um bom banho. Tudo em
meio à vegetação de cerrado e muitos cânions.
Em uma das trilhas do parque
Cheguei de
volta à pousada às 17 h, extremamente cansado, mas satisfeito pelo passeio. Só
chove em Alto Paraíso!
Chuva sobre Alto Paraíso
À noite,
jantei no restaurante Benzim um rosbife com champignons acompanhado de arroz
cremoso de castanhas, uma delícia! Como sobremesa, subi a rua principal e tomei
um sorvete.
Amanhã
iniciarei o retorno. Estou a 1.450 km de casa!
Oitavo dia –
25/02/2021 – quinta-feira – Alto Paraíso de Goiás a Cristalina
Choveu forte
durante toda a madrugada, pela manhã chovia mais fraco. Juntei toda a bagagem e
acondicionei-a na moto, vesti a capa e parti às 8:30 h com chuva. Ao sair do
portão da pousada, a moto não engatava nenhuma marcha que não fosse a 1ª. Era 1ª
ou neutro, as demais não engatavam. Como a chuva havia aumentado, eu não quis
parar e saltar para verificar o que estava ocorrendo, então rodei 3 km até a saída
da cidade em 1ª marcha a menos de 20 km/h. Informei-me e cheguei a uma oficina.
Novamente, o problema estava no pedal de marchas! O resumo é que fiquei na
oficina até as 12:30 h. Foi retirado o pedal anterior, colocado um novo e feita
nova solda, desta vez será impossível sacar o pedal sem inutilizar o eixo. A
adaptação desta vez foi a partir de um pedal de Tornado. Os mecânicos Sinomar e
William tiveram muita paciência e competência.
Quando saí
de Alto Paraíso às 12:30 h a chuva havia cessado. Rodei 70 km e fui almoçar em
São João da Aliança, no “Chapéu de Sol”, onde almoçara na ida.
Segui em
frente pelo mesmo caminho da ida, a moto estava boa e andando bem, apesar do
consumo absurdo de 15 km/litro, o que foi uma constante durante toda a viagem.
Cruzei o DF,
voltei ao estado de Goiás e parei para pernoitar em Cristalina, no mesmo hotel
onde houvera ficado dias antes com o grupo da WMT. Apesar de haver atrasado
bastante na saída devido ao problema com o pedal de marchas, a viagem rendeu
bem e foi agradável.
Nono dia –
26/02/2021 – sexta-feira – Cristalina a Porto Ferreira
Um dia
típico de deslocamento, porém sob forte chuva o tempo todo.
Muita chuva
pela manhã em Cristalina, com neblina baixa. Parti sob o temporal com muito
cuidado. Escolhi o caminho através da BR-050 (ao invés da BR-040), pois as
estradas são muito melhores; sob chuva forte, isso faz muita diferença.
A chuva não
deu trégua, fui seguindo até Catalão com a forte chuva e a neblina me
acompanhando, 189 km após Cristalina. Abasteci a moto, tomei um café quente e
continuei a jornada até Uberlândia, onde almocei. Após Uberaba a chuva
diminuiu, mas não era possível tirar a capa. No Graal Trevo, em Ribeirão Preto,
o tempo abriu e um sol tímido apareceu, mas já eram quase 18 h.
Eu precisava
achar um hotel para descansar, pois já houvera rodado bastante e não dirijo à
noite; fui seguindo pela Anhangüera (SP-330) até Porto Ferreira, onde entrei na
cidade e consegui um hotel. Mal saltei da moto e adentrei a portaria do hotel,
a chuva voltou! A cidade está em lockdown devido à pandemia; pedi uma deliciosa
pizza de escarola com aliche e a devorei no quarto.
Hoje foram
650 km em 10,5 h de viagem sob uma chuva implacável, e a Sahara mostrou que,
apesar da sua idade avançada, ainda é confiável. É uma Honda! Isso diz tudo!
A escolha do
trajeto pela BR-050 foi mais do que acertada! Foi perfeita!
Décimo dia –
27/02/2021 – sábado – Porto Ferreira a Rio Claro (RJ) – Fim da viagem
Choveu
bastante durante a madrugada, pela manhã já não chovia, apesar de as ruas e
estradas estarem ainda molhadas da chuva da noite.
Consegui
sair um pouco antes das 8 h, depois de separar as coisas que se molharam no dia
de ontem durante a chuva impiedosa. Segui pela Anhangüera; em Campinas peguei a
D. Pedro I, a qual percorri até a Dutra. Almocei no Spoletto do Arco-Iris de
Roseira. Mais adiante, como sempre, tomei um Ovomaltine em Floriano e cheguei em
Rio Claro às 16 h.
Viagem do dia ótima, 560 km com a Sahara a 90 km/h, sem
apresentar qualquer problema. Tempo bom, apenas alguns chuviscos na Dutra.
Parecer
final
A viagem com
um todo foi muito boa, apesar dos problemas apresentados com o pedal de marchas
da Sahara, e isto não me desanimou em momento algum. Foi instigante e uma
experiência diferente percorrer 3.180 km com uma moto antiga, limitada e de
pequena potência (31 CV). Isto só corrobora minha teoria de que qualquer moto
vai a qualquer lugar e que o prazer de estar sobre uma moto supera a falta de
potência, de imponência e de status. Eu gosto de motos, gosto de rodar e de
viajar de moto, não importa a cilindrada ou o modelo.
O fato mais
curioso de tudo é que os pilotos de motos ditas “maiores” ou de grife me
ignoravam quando cruzavam por mim na estrada ou nas paradas. Quando estou com
motos de alta cilindrada, eles vêm conversar e acenam ao cruzar na estrada. Uma
Sahara velha? Fui ignorado solenemente!! Nem ao menos me cumprimentavam nos
estacionamentos das paradas que fiz para café ou almoço!
São seres superiores!